10. Segundo Time:
Os cinco últimos filhos de Jesus e Iaci
...e a colcha de retalhos aquecia e escutava encantada, a conversa das irmãs. |
Depois
que Arilo abriu a porta, chegaram as meninas: Ariane, Maria Aline, Margarida
Aíla, Angela Marta. Arilo, um ente as quatro , o "dirmano"
paparicado tanto por elas, quanto pelos irmãos e irmãs do primeiro time.
Nossos pais planejaram que os filhos
caminhariam em duplas: Aécio com Aide, Aristênio com Aride; a dupla de Arilo, Ariane. A de Margaridinha, Martinha. E a de Maria Aline? Esta sem par fixo, par de todos.
Uma menina doce e cheia de amigos e amigas. Quando, após mamãe partir, eu em Barbalha todo o final de semana, meu colo era dela. Não por preferência minha, mas por imposição sua. Não permitia as outras irmãs gozarem daquele desajeitado colo.
Aristênio e Aline/ Crato |
Aide e Aécio/ 1944- Barbalha |
Aride e Aristênio 1946/Barbalha |
Arilo e Ariane/1954- Barbalha |
Margaridina e Martinha/1962-Crato |
Algumas pessoas diziam não entender como eu, tão jovem, assumira a família. Para mim,
entretanto, não foi novidade ou desassossego. Minha mãe me preparara a vida
inteira para assumir aquele posto. Estudei em ótimos Colégios de religiosas. Em
Crato, com as Filhas de Santa Tereza e em Barbalha, com as Beneditinas. Sem
me dar conta, havia em mim, em um lugar que não sei onde fica, uma chama acesa,
uma certeza certa, uma paz tão grande, que cuidar de minha família, era para mim
uma honra, não uma obrigação. Há certas certezas que trazemos em nós, que
não se explicam.
Quando
voltei de Barbalha à Crato de luto, com vestidos pretos de mangas compridas,
como era costume na época, busquei a Deus. Eu sabia, por ter aprendido
com as religiosas, que existe uma graça especial para cada estado de vida. Na
situação esdruxula em que me encontrava, busquei a mesma com toda minha
alma. E quando, na segunda-feira, primeiro dia de aula após a partida de minha
mãe, fui à Escola Técnica de Comércio, vi a Igreja de São Vicente, hoje Santuário
Eucarístico Diocesano, toda iluminada dando-me as boas vindas.
Igreja São Vicente Ferrer e Praça São Vicente, Crato-Ce. |
Sem me
explicar a Nadir, uma colega querida, não entrei na Escola. Meu coração ansiava
conversar um pouco com Jesus Eucarístico, e pedir-Lhe a Graça tão almejada.
Adentrei a Igreja sem nenhum receio de ser mal interpretada. Atravessei-a toda
e, junto ao Sacrário, fiz a Jesus o meu pedido: concede-me Jesus, a graça
reservada ao matrimônio. Sou mãe Jesus, sem dar á luz a nenhuma vida. Se Tu não
ma deres, Senhor amado, como poderei ser mãe sem ter me casado ou com nenhum
homem haver me relacionado? Permaneci ali por alguns momentos, e soube com
uma certeza imensa, que Sábio, Bom, Alegre, Feliz e Muito Contente, concedera-me a Graça suplicada.
Assim,
para vocês do segundo time, irmão e irmãs queridas, acabem de uma vez com essa
bobagem de achar que eu fiz algo de extraordinário. Nada fiz, prado verde
amado. Não era eu que de vocês cuidava. Era a Graça de Deus em mim derramada
naquela noite quando a pedi junto ao Sacrário.
Não os
vejo religiosos. A culpa é minha que não fiz com vocês o que minha mãe fez
comigo. Ela me conduzia, constantemente, a missas, adorações, a novenas, e
assim facilitava meu encontro com Deus.
Lembro-me
saudosa do dia em que mamãe me presenteou com um missal de folhas de seda,
quase transparentes, e bordas de ouro. Um primor de livro. Ao mo entregar
disse-me ela: “filha, é para que fiques sabendo o que se passa no altar durante
a celebração da missa. Eu te vejo tão atenta e nem sabes direito o que acontece por lá”. Ao sentir com as mãos a suavidade das folhas, pensei: será que minha
mãe lê meus pensamentos? Como adivinhara que eu me recusava a rezar o terço
durante a missa, como o fazia a maioria das pessoas? Eu intuíra que no altar
algo de grandioso acontecia. Com o missal, que gostosura! Eu rezava com o
sacerdote todas as orações da missa, meditava todas as leituras. Que Deus a
tenha minha mãe! Se durante sua vida inteira pensa que nada fez de certo, fique
certa, minha mãe querida, que ao me presentear com o missal, salvou a minha
vida.
Em cada
página, o missal em duas colunas, trazia em latim e em português as celebrações litúrgicas inteiras. Encantei-me com aquele presente. Desde então, quando participo das missas, busco um lugar nos bancos da frente , próximo ao altar, para acompanhar os gestos,
sinais preciosos de que Jesus através das mãos sacerdotais, vem realmente atualizar o que nos deu na CRUZ : SUA VIDA.
De minhas irmãs, Ariane, que nasceu pequenina, entre Arilo e Maria Aline,
espremida, requereu atenção mais minuciosa. Mãe Neném achava que aquela menina
não “vingaria”, lembrava-se de sua perdida Lindalva. Propôs a meus pais que
permitissem levá-la para sua casa, em Juazeiro. Argumentava, meio apavorada que, mais perto do Padre Climério, ela teria chance maior de sobrevivência. Papai
não concordou. Mamãe também não queria. Entretanto, à proporção que os dias
passavam, a menina ficava mais miúda.
Alarmado,
papai fez com vovó um trato: “Ariane ficará em sua casa alguns meses e até um
ano, se preciso for. Mais do que isso, nem pensar, dona Nenem”.
Vovó levou
nossa irmã para sua casa e a tratou fidalgamente. Ariane, entretanto,
continuava mirrada, sossegada, e pequenina.
Papai
foi busca-la em Juazeiro e a encontrou de cama. Uma gripe forte a acometera.
Voltou sozinho para nossa casa. Mamãe desassossegada, desencantada, sentindo-se
culpada pela saúde frágil da sua menina. Durante sua gestação, com enjoos,
quase não se alimentara.
Vovó
veio com nossa irmã à Barbalha. Alegria em toda a família. Entretanto, naquele
fim de semana, mamãe percebeu que aquela filha querida precisava de cuidados
especiais. Nova negociação se fazia necessário. Da mesma, não participou.
Papai, muito sentido com a ausência de sua filha, à bendita sogra entregou-a dizendo: “sua casa, minha sogra, é a casa de saúde de minha filha. Tão logo
sare, retornará para sua verdadeira casa, para sua família. Nunca demos filhos
nossos para ninguém cuidar mas esta sua neta, dona Neném, é pequenina, frágil,
necessita de uma mãe a mais, neste momento".
Vovó,
toda contente, levou Ariane consigo. Aquele "projeto de gente”
povoava sua solitária vida.
Depois,
chegaram as irmãs menores, Margarida Aíla e Ângela Marta, Margaridinha e
Martinha, as pequeninas filhas de dona Iaci companheiras de Maria Aline,
Lina. Todas as manhãs, bem cedinho, às seis horas, mamãe vestia as
três com seus pijaminhas de flanela colorida e as carregava para a missa.
Ariane
continuava com mãe Neném. “Um absurdo”, resmungava seu Jesus, irritado,
chateado. Olhava a esposa e consternado, constatava que com a saúde fragilizada,
não podia cuidar daquela amada filha que a sogra, mui contente, levara para
passar “alguns meses tratando-se com a hemeopatia do Padre Clímério que, sem
surtir efeito, substituída fora pela alopatia do doutor Mozart Cardoso de
Alencar”.
Enquanto
era alvo de disputas, Ariane, muito sábia, vivia sua vidinha amada pela avó,
paparicada por titia, fazendo de suas filhas, suas irmãs.
Nova
gravidez, anunciada. Como fazer agora, minha gente? Trazer Ariane de volta, é
urgente. Se não corrermos, sem ela ficaremos. Vovó veio novamente nos visitar
trazendo nossa irmã. Arilo nem acreditava que seu querido par chegara. Na falta
insubstituível dela, ele se “ajeitara” estreitando os laços com os primos de
sua mesma idade: comadre Anginha, ( Ângela Maria,
a caçula de tia Silvinha) compadre Rurru, (Jesus, o caçula de tia
Rosinha).
Com
Ariane naqueles dias perto dele, em sua companhia, aproveitou ao máximo a
irmã, seu par, na caminhada pela vida, pensava ele.
Mamãe,
que não suportava comida, cheiros, tudo enjoava, fazia-se de forte. Finalmente,
pensava agradecida, a filha voltaria a seu lugar. Ao aconchego dos irmãos, aos
braços dos pais. Mais uma vez, parece sina, aquele imenso desejo não se
concretizou. Como trazê-la naquele instante? Um outro filho vinha a caminho. E
os enjoos a perseguiam.
Sem
querer imiscuir-se, e já se metendo, mãe Neném, calma mas forte, se impôs:
“Jesus, não percebes que Ariane , eu a criei diferente. Cuido dela para ti, eu
ta devolvo." “Devolve-me? Que devolver é esse a que a senhora se refere?
Devolve-se aquilo que se tomou emprestado. Cuidado, minha sogra, estou ficando
cismado.” “Olha homem, reflete. Tua filha, minha neta querida, para nós nunca
será barreira, montanha a nos dividir. Proponho, novamente, que por mais uma
temporada, ela fique comigo. Sua saúde, pensa homem, vem em primeiro lugar.”
Esperta, nossa avó conseguira o que queria : ter aquele pingo de gente,
consigo.
Mamãe,
sempre que engravidava, passava muito mal. Lembro-me dela com enormes crises de
enjoos que se iniciavam pela madrugada. Nenhum cheiro, antes gostoso,
suportava. Como resultado, suas forças esvaiam-se. Eu, por mais que procurasse,
não entendia o porquê de papai querer tantos filhos, mesmo pondo a vida de
minha mãe em risco.
Naquela
madrugada terrível, com o último dos filhos que trazia no seio sofrido, partiu
para eternidade levando-o consigo. O décimo filho.
Desolados
ficamos. Agora como tirar Ariane da vovó. Ela perdera mais do que uma filha.
Fora-se a amiga, a confidente, a mulher forte que a compreendia e a sustentava
em seus momentos de fraqueza.
Papai
me chamou e ordenou: "vá à Juazeiro e traga Ariane. Que coisa é essa de
não a termos conosco neste momento! Falta-nos sua companhia. Foi-se tua mãe.
Quero minha filha, a outra, aquela pequenina e franzina que tua avó
levou".
Escutei-o
atenta e calmamente. Nada respondi. Precisava de tempo para resolver
aquela “parada”.
Em
Juazeiro, expus a titia a situação que se criara em nossa casa com a
ausência de mamãe. Todas as noites, meu pai ordenava a um dos filhos que
pusesse a tocar em nossa vitrola, o choroso canto de um cantor que, ao invés de
acalmá-lo, exacerbava sua dor:
O
sol que outrora brilhou em minha vida,/ Perdeu a luz, mudou de cor, não brilha mais ...
Aquela
música incomodava os filhos. Meu pai, imerso em sua dor, tiranizava os do
segundo time, fazendo-os repetir o disco vezes sem conta, até que, ajudado pelo
álcool, após “urrar” de dor em nosso quintal implorando a Deus que lhe
permitisse, apenas por um segundo, encontrar-se com a mulher amada que,
impensada e impulsivamente traíra com sua secretária, uma moça sem graça, sem
cultura, sem atrativos, mas sabida na arte da sedução.
Deus
nunca o atendeu. Jesus Luna até o último dia de sua vida, chorou, lamentou a
falta da única mulher que soube inundar sua vida de cores, de sabores, de
cheiros de amores...
Jesus Luna, cujos negócios negligenciara quando da "questão" com o
senhor Pedro Sampaio relativa às terras de nossa propriedade na Capada do
Araripe, O Caju, ficou totalmente sem rumo com a morte da esposa. Aos poucos e
continuadamente perdeu todo seu patrimônio, inclusive sua casa de morada. Só
encontrava consolo quando embriagado pelo álcool. Entretanto, mesmo naquela
situação, era respeitado por todos e cuidado por nós, seus filhos e filhas e
continuava sabendo fazer, e guardar boas amizades.
No domingo de carnaval de 1960, Aécio e seus amigos do DENOCS, providenciaram
nossa mudança para o Crato. Mudança sofrida mas necessária. Tanto papai
quanto eu, já contávamos com empregos naquela acolhedora cidade.
Tio Antônio Mariano, mais uma vez viera em socorro a
Jesus Luna convidando-o a trabalhar consigo em sua sapataria, em Crato.
Madre
Carmelina Feitosa ao saber por Helena Mariano, nossa prima, que estávamos de
mudança para o Crato, enviou-me uma carta convidando-me a lecionar no Colégio
Santa Teresa e solicitando minha presença para que acertássemos horário e
salário.
Tão logo recebi a feliz e inesperada carta, corri ao encontro da Madre.
Fui contratada para ministrar aulas de inglês no aludido colégio. Ao me dar o
abraço de boas vindas, a religiosa indagou-me em que rua residiríamos. Ao saber
que ainda não dispúnhamos de moradia, riu alegre e informou-me que uma casa da
Diocese, situada à Vila Jubilar, estava desocupada. "Ela estava esperando
por vocês, minha filha. Vamos logo acertar o aluguel que, por sinal, é
simbólico porque é um projeto de Dom Francisco, e pegar a chave da mesma".
Assim, sem stress, ficamos arrimados.
Vila Jubilar, entre nossa casa e a da Maroli .
Os Landim Luna: Jesus Luna e os nove filhos: A partir da esquerda: Marta, Aécio Jesus, Arilo, Ariane, Aline Margarida, Aide e Aristênio |
Nossa casa em Crato, Ceará. A partir da esquerda: Danilo, Eliane Edênia, tia Nair,J.Marcones e Vicente. |
Outras alegres surpresas me aguardavam: o senhor Pedro Felício Cavalcante, diretor da Escola Técnica de Comércio, enviou-me convite para lecionar em sua escola e o IBEU me contratou para trabalhar com crianças.
Papai e o segundo time: Margarida, Ariane, Jesus Luna, Arilo, Aline e Ângela Marta. |
Casa de seu Jesus Luna em Crato- Vila Jubilar, 69
Em Juazeiro, comprava "rosários de catolé", chupeta de açucar, "nego bom"(um doce escuro feito com caju) "colchão de noiva"( quadradinhos de um doce recheado com coco), pipoca, chilitos e muitas coisas mais e as distribuía com as crianças das vizinhanças. Estas lhes perguntavam:
-
E o Cassimiro Coco?
-
Esperem um pouco. Deixem minha neta chegar. ( referido-se à Clarissa)..
-
Demora muito. Vamos ver os bonecos sem ela.
- Vou
ver se o "bonequeiro" pode vir no sábado. Avisarei a vocês.
E
lá estava o teatro mamulengo divertindo os moradores da Vila.
Não
tivemos tempo de sentir falta do sax do Mestre Chico. Hugo Linard e sua
afinadíssima sanfona o substituiu. Assim os Landim Luna continuaram embalados
por boa música, todas as noites.
Para
mim, foi uma surpresa triste, quando recebi de meu pai a informação de que sua partida aproximava-se. Uma contida alegria o tomava por inteiro. Fez-me prometer duas
coisas: avisar ao Mestre Azul, o saxofonista, que partira, e vesti-lo com
o terno azul marinho, de um tecido parecido com tropical Inglês.
Ordenou-me
ainda que não me esquecesse da camisa de cambraia branca e do lencinho, também
branco, no bolso de cima de seu paletó. Quanto à gravata, “escolha uma bem
bonita”, acrescentou.
Não
chamei o Mestre. O exímio saxofonista tão logo soube da notícia que seu
Jesus, aquele “cara especial”, como o chamavam seus amigos, partira desta vida, chegou a minha casa com o saxofone debaixo do braço.
- Dona
Aide, tenho uma dívida a saldar com seu pai. Não sei se a senhora sabe.
- Sei
sim, mestre. Ele me avisou. Quanto pagarei por seu trabalho, meu amigo?
- Ora,
dona Aíde, há mais de cinco anos ele me contratou, e me pagou adiantado.
Ao me
comunicar com padre Agostinho, informando-o da morte do amigo, lamentando,
disse-me: “perdi, não, nós barbalhenses perdemos a pessoa mais amiga,
mais presente em nossas vidas. A pessoa que sabia transformar amarguras,
tragédias em piadas, em alergia. Seu pai foi um grande amigo. O lugar para ser
velado é aqui em Barbalha. Muita gente o fez sofrer. Eu o esperarei e a sua família, em
nossa Igreja Matriz.”
- Na
matriz, padre? O senhor tem certeza? Há uma ordem de vigário de os corpos serem
velados na Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
- Seu
pai, minha filha, foi injustiçado. Sofreu calado. É um filho ilustre de
Barbalha. É aqui, junto a seu Padroeiro que seu corpo ficará. Com relação à sua
alma, não duvide. A quem muito amou, muito é perdoado.
- Sabe,
meu padre, ele contratou um mestre saxofonista para acompanhá-lo á sua última
morada.
- Eu
sei. Ele me participou. Ele quer que essa música, e somente ela, a valsa Branca
o acompanhe. Ele disse-lhe o porquê?
- Não
disse mais eu sei o porquê, padre. Esta valsa é um código musical. Foi ao som
dela que ele e minha mãe se reencontraram após quase desfeito seu noivado e
casamento. Penso, padre, que ele crê de todo o coração, que a bendita valsa o
levará a minha mãe e nada mais os separará. Não é meio pagão essa sua certeza?
- Não,
minha filha. É tão bonita a fé que ele tem no perdão de tua mãe, é tão forte o
que viveram com essa valsa, que Deus compreende e se encanta. Lembra-te: o amor
é mais forte do que a morte.
E foi
como ele planejara. O saxofonista exprimia, porque conhecia a história, o amor
que uniu meus pais através daquele código musical, a valsa Branca que guardaram ciumentamente
no coração. Não conheci a letra que nossos pais puseram na música. Fiquemos com
a de Abramonte, reproduzida no final do texto.
Outra
música falava-lhes ao coração, Sertaneja. Mamãe a cantarolava quando feliz.
Entretanto, não gostava de ouvi-la cantada por nenhum cantor ou cantora.
Um dia, estando eu próxima dela, sentada numa cadeira bem em frente a sua
máquina de costura, pelo rádio, ouvimos a citada música. Seus olhos estreitaram-se, lacrimejaram. Soluçante, ordenou-me que desligasse o rádio.
Posteriormente,
quando em companhia de papai, perguntei-lhe o porquê daquela tão grande emoção
de minha mãe. Ele silenciou. Depois disse-me que a mesma fazia parte de suas
vidas e que eu não lhe perguntasse mais nada.
Quanto
a Ariane, papai encarregou-me de pegá-la na casa da vovó, e a trazê-la para
nossa casa, para sua família. Conversei com titia e com Crica (Vicente). Os
dois aconselharam-me a não cometer tal violência com a vovó. Ela perdera a
filha mais amada, aquela que a compreendia e facilitava sua vida. Foi duro,
muito duro para mim. Uma situação difícil. Papai querendo-a de volta, ao
lugar que a ela pertencia, em nossa casa, conosco. Vovó chorosa, fragilizada. O
que fazer?“ Vinde em meu socorro, ó Mãe Carinhosa!”.
Eu
temia que minha irmã, por desconhecer fatos se nossa vida familiar,
posteriormente, acusasse nossos pais dizendo-se rejeitada por eles. Tal não
aconteceu. A MAGRELINHA, surpreendeu a todos nós. Seu corpo franzino abrigava
uma mulher guerreira, forte, decidida. Após o primeiro ano do curso de Ciências
Biológicas, na Faculdade de Filosofia de Crato, instigada pelo professor e
diretor da referida Faculdade, Dr. José Newlton Alves de Sousa, partiu para o
Rio de Janeiro.
Com sua
inteligência privilegiada, aliada a vontade firme, nunca buscou o caminho mais
fácil. Calma, prudente, mas firmemente, foi à luta. Formou-se em Botânica pela
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Orgulho-me
dela. Rio-me, encantada, porque entre as cariocas, a nordestina simples se
destacou. Segundo nosso saudoso irmão, Aécio, em sua cabeça “moram as folhas de
todas as plantas do mundo.”
Hoje é
avó, tão, ou mais “coruja” do que eu. Sabe falar a língua das crianças, dos
jovens, dos adultos, dos idosos... É mestra na arte de ouvir, coisa rara nos
dias de hoje. Mansa e firmemente, está “de olho” na família. Não altera a voz,
não clama, não grita, mas com um jeitinho todo dela, nos traz cuidados.
Admiro-a
muito. Nela vejo a mansidão de meu pai nos anos risonhos de sua vida. Mansidão
que convence e que une e a torna especial. É Pós- Doutorada.
Em uma
de minhas viagens, tive a honra, a grata surpresa de ver diretores, reitores,
professores de renome, receberem-na de pé aplaudindo-a. Ela, com a simplicidade
que a caracteriza, atravessou o auditório repleto e pronunciou algumas
sábias palavras.
A filha
do nordeste, na cidade do Padre Cícero, aprendera com seu fundador, com a
exímia educadora, Amália Xavier e, sobretudo, com a avó que a criou, a
nunca se vangloriar. A ser tão somente a professora competente e amiga que se
enche de jubilosa alegria ao ver os alunos crescerem, desabrocharem,
entenderem que em cada um deles há uma fonte viva, que jorra, que alimenta. Uma
fonte que, depois de descoberta, os dessedentará por toda vida.
Vila Jubilar, 69, Crato- Cerá.
Vila Jubilar, 69, Crato- Cerá.
Na frente> Margaridinha, Jesus Luna, Martinha e Aide. Atrás> Ariane, Eliane e Maria Aline. |
BRANCA
Há tempos que a vi/ Que a conheci
Ela era linda, um primor, de amor.
Mista de estrela e de flor,
Mas também sofreu. / Eu sei vou contar
Pois li naquele olhar/ Cansado de chorar.
De tarde, ao chegar/ Os trens um a um,
Ela viu descambar/ Um estranho tentador.
Vi Branca cismar/ Num sono de amor
Ficou logo apaixonada/ Do mancebo
tentador.
Mas esta flor/ Não sentiu florir o amor
Nunca sentiu florir/ Porque ele teve que
partir.
Vi-o embarcar/ Como um dia após o amor,
Do jovem tentador.
SERTANEJA
SERTANEJA
Sertaneja se eu pudess
Se Papai do Céu me desse
O espaço pra voar
Eu corria a natureza
Acabava com a tristeza
Só pra não te ver chorar.
Na ilusão deste poema
Eu roubava um diadema
Lá no céu pra te ofertar
E onde a fonte rumoreja
Eu erguia tua igreja
Dentro dela teu altar.
Sertaneja,
Porque choras quando eu canto ?
Sertaneja,
Se este canto é todo teu
Sertaneja
Pra secar os teus olhinhos
Vá ouvir os passarinhos
Que cantam mais do que eu.
A tristeza do teu pranto
É mais triste quando eu canto
A canção que te escrevi
E os teus olhos neste instante
Brilham mais que a mais brilhante
Das estrelas que eu já vi.
Sertaneja, vou embora.
A tristeza vem agora
A alegria vem depois.
Vou subir por essas serrasSe Papai do Céu me desse
O espaço pra voar
Eu corria a natureza
Acabava com a tristeza
Só pra não te ver chorar.
Na ilusão deste poema
Eu roubava um diadema
Lá no céu pra te ofertar
E onde a fonte rumoreja
Eu erguia tua igreja
Dentro dela teu altar.
Sertaneja,
Porque choras quando eu canto ?
Sertaneja,
Se este canto é todo teu
Sertaneja
Pra secar os teus olhinhos
Vá ouvir os passarinhos
Que cantam mais do que eu.
A tristeza do teu pranto
É mais triste quando eu canto
A canção que te escrevi
E os teus olhos neste instante
Brilham mais que a mais brilhante
Das estrelas que eu já vi.
Sertaneja, vou embora.
A tristeza vem agora
A alegria vem depois.
Um ranchinho pra dos dois
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