28. Refúgio do Guerreiro,
Casa da Bica,
Luana.
...e, de repente, os retalhos em suas mentes juntaram-se harmoniosos. Cuidadosamente, com os mesmos, construíram um mundo novo. |
Olhando fotos deparei-me com nosso refugio, a casa que construímos para ter as filhas e amigos conosco.
Aide e sua sobrinha, Ive, filha do Tenoca, conversando sobre o Refúgio de Guerreiro |
Toda história tem um começo. Esta não é diferente. Começou a ser gestada quando aos 11 anos vim de Barbalha para o internato do Colégio Santa Teresa de Jesus, aqui em Crato. Amélia, uma senhora simpática, moradora da Luanda, em terras suas, as mais próximas da nascente da Batateira, foi-me apresentada por tia Zefinha, e passou a cuidar de minha roupa, lavando-a na nascente. Entre nós nasceu uma amizade que resiste ao tempo.
Mais
tarde, quando retornei à Crato para cursar o Normal e Contabilidade, novamente
Amélia cuidou de mim, de minhas roupas. Depois, por motivo de viagem,
apresentou-me sua irmã Adília. Se Amélia me cativara, o que dizer da suave
Adília? Ficamos amigas. Às segundas-feiras quando vinha à feira semanal,
costumava almoçar conosco, em nossa casa à rua Tristaõ Gonçalves, 550.
Casados, Francisco Parente e eu, com casa própria e proprietários do sítio Buriti, em
Santana do Cariri, e com três lindas e maravilhosas filhas, Thereza Denise,
Rachel e Clarissa nos sentíamos completos, plenos.
Entretanto, nossas filhas
cresceram tão rápido que, quando nos demos conta, estavam cercadas de amigos,
amigas e desejosas de, como as demais amigas e amigos, passar fins de semana
fora de casa, nas chácaras Ficamos apreensivos. O que fazer? Adília que ouvira
nosso comentário, perguntou-nos:
Jesus Luna(papai) e Thereza Denise Festa dos seus 15 anos. |
Jesus Luna e Rachel nos 15 anos da T, Denise |
Clarissa |
-
Por que vocês não constroem uma casa bem agradável, lá pras banda do Lameiro e
passam os fins de semana com as meninas?
-
No Lameiro? Que conversa é essa, minha amiga?
-
Ora, Aide, eu tenho um terreno que herdei de minha mãe, e quero dele desfazer-me. Quero me mudar para São Paulo. Faço um bom preço. Prefiro saber que
são vocês que moram lá.
-
Meio maluca. Mas vamos ver o terreno.
E
assim, no domingo seguinte, estávamos com Adília e Amélia olhando o terreno.
Muita água. Água numa levada grade, muitas polegadas. Água numa nascente
pequena. Água num grosso cano preto. De terra, um buraco grande. À primeira
vista, nenhum lugar plano para uma minúscula casa. Chico Parente, amante de
água, encantou-se.
-
Se não houver lugar para uma casa, não faz mal. Faremos uma palhoça e do buraco,
uma piscina. As meninas vão gostar. Este lugar é vizinho à nascente. É
maravilhoso. Nossa água límpida, mineral, pura, nem de filtro necessitaremos.
-
Calma, Parente, calma. Passemos uma vista cuidadosa por estas grotas e vejamos se há possibilidades de construirmos uma casa. Sem ela, nem pensar em comprar este
terreno.
Esfregando as mãos, ele soltou uma gargalhada, olhou-me desafiante:
-Não
és metida a arquiteta? Vamos lá mulher. Bota a “cuca” para funcionar. Quero ver
esta charada, decifrares.
-Não
me insultes, cavalheiro. Se me desafias, verás de que sou capaz. E tem mais, se
eu topar o desafio, tens dinheiro para a construção?
-
Se resolveres a questão. Se dirigires a construção, o mínimo, são os tostões.
Adília, quanto queres por este buraco, que chamas de terreno?
-
Seu doutô, o senhô constrói a casa, e nós se acerta.
-
Não, Adília, não esta certo. Primeiro a escritura do terreno. Depois, quem
sabe? A casa.
-
Acho melhor que penses mais. Vai ser uma trabalheira. Já temos o sítio, a
moagem. Para que uma casa a mais?
-
Esqueceste que nossas filhas já não gostam do Buriti. Elas querem mais é ficar
por aqui, com os amigos, com os primos, e daqui a pouco, para desespero meu,
com os namorados. Já resolvi. Compro o terreno. E te viras, amor meu.
Mostra que és realmente boa, em tudo o que fazes.
Encantado com a abundância da água, comprou naquela mesma semana o terreno, passou a escritura e ma entregou
dizendo:
-
Acho que deves acertar com a Faculdade e com o Colégio, para teres um tempo e
planejares nossa casa. Já acertei com compadre Miúdo. Ele está desempregado e a
tua disposição. Sua família espera que o empregues, em nossa construção.
-
Deus me acuda, ficaste maluco, homem? Como posso pensar em construção em tempo
letivo?
-
Muito fácil. Pensas que não sei que tens créditos por aulas que assumiste de
colegas teus? Vira-te mulher. Em três meses, nossa casa estará pronta. Eu te
conheço. Amas construir. Vamos lá, põe teus talentos a serviço da tua família.
Nossa
filhas debandaram-se para o lado do pai, como sempre. Ele era o Cheirinho
amado, o paizinho que as paparicava sem perder a autoridade.
Acertei
minha vida na Faculdade e no Colégio Estadual Wilsom Gonçalves e naquele fim de semana,
com compadre Miúdo vigiando-me, “apalpei” o terreno-buraco. Deitei-me numa
esteira de palha, perto da levada grande, com papel e lápis nas mãos. Levantava
um pouco a cabeça e pedia ao compadre que medisse determinada área. Ele,
desanimado, disse-me:
-Minha
comadre, dona Adília se desfez de uma armadilha herdada, vendendo este terreno
ao compadre. Nem a senhora e nem ninguém pode construir neste terreno, sem
antes fazer um grande aterro.
-
Engano teu, compadre. Pega os barbantes, os pedaços de madeira que te
encomendei. Pega, compadre, teus instrumentos de trabalho, vou mostrar-te a pedra angular, que guiará esta construção. Assustado, olhando-me, atendeu
meu pedido. E percebeu o que não vira antes, um retângulo de terra emergindo
dos barrancos. O dia foi curto para nosso trabalho.
À tardinha, Parente, certo
de que eu resolvera o problema, chegou com sua caminhoneta azul, todo prosa:
-
Como é, meu compadre, minha mulher te mostrou seu lado arquitetônico?
-
Ora, compadre. Minha comadre me botou no bolso. Amanhã começo a cavar os
alicerces da casa.
-
E a planta, compadre? E a planta? Como constróis sem planta?
-
Saber, não sei. Ela marcou tudo no chão. Vai desenhar hoje no papel. Disse-me
que eu podia começar. Disseste-me, compadre, que suas ordem eu obedecesse,
mesmo que não concordasse. Vou fazer como ela ordenou. Se dará certo, é
com ela.
Chico
Parente gostou daquela conversa. Riu, beijou-me na frente do compadre e voltou
para o trabalho, animado, cantando. Mais tarde, peguei nossa brasília branca
passei na papelaria de Conceição Romão, comprei o que necessitava. Voltei
para nossa casa e pus-me a traçar as linhas de nosso Refugio. E, para espanto
de compadre Miúdo, de Adília, lá estava a casa bonita, simples mas de linhas
arrojadas. Não mexi no terreno. Segui-lhe o traçado. À primeira vista,
pensava-se ser uma casa comum. Mas aquela, singela, numa sala única quatro
ambientes mantinha separados, a sala de televisão, num buraco redondo com bancos
de alvenaria e almofadas coloridas, arandela de crochê, sala de almoço com mesa
redonda, linda, de cipó tão bem feita que ainda hoje serve e enfeita o
apartamento de estudante de minha neta Liv, e espaço para cadeiras, para
conversas. Quartos bem estruturados, banheiro, quarto de casal, e uma linda
varanda em dois lados da casa com coberta bem firme e bela, e toras de madeiras
entre colunas de pedra. A casa ficou maravilhosa.
O Refugio do Guerreiro, casa-da-bica, bem próximo à nascente Batateiras. |
Aide e Ive/ Refugio do Guerreiro/Casa-da-bica. Luanda, Crato. |
Ive e Aíde no Refugio de Guerreiro, a casa da bica. |
Depois, de acordo com o
terreno, uma pródiga bica-piscina, degraus, tudo em pedra do lugar, redesenhadas com cimento. Degraus largos que muitas vezes nos serviram de “mesa” para almoço
e jantar.
O lugar parecia um sonho de tão lindo. Nossa filhas com os amigos, com os namorados, não queriam outro lugar. E para completar a alegria, a família Landim Luna adotou o Refugio do Guerreiro e o rebatizou de a Casa da Bica. O que mais nela me encantava era o jardim. Sempre florido. A grama macia e sempre verde, a água abundante. As Mangueiras sempre safrejando. A felicidade de meu marido que nunca acreditou que, de um buraco sem vida, pudesse surgir aquela maravilhas. Foi uma casa de risos, de encontros, de vida, de férias, de histórias, de sonhos. Á noite, o vento cantando no palmeiral nos embalava os sonhos, nos fazia pensar estarmos no Buriti, em julho, aonde o vento ali, faz sua curva.
O lugar parecia um sonho de tão lindo. Nossa filhas com os amigos, com os namorados, não queriam outro lugar. E para completar a alegria, a família Landim Luna adotou o Refugio do Guerreiro e o rebatizou de a Casa da Bica. O que mais nela me encantava era o jardim. Sempre florido. A grama macia e sempre verde, a água abundante. As Mangueiras sempre safrejando. A felicidade de meu marido que nunca acreditou que, de um buraco sem vida, pudesse surgir aquela maravilhas. Foi uma casa de risos, de encontros, de vida, de férias, de histórias, de sonhos. Á noite, o vento cantando no palmeiral nos embalava os sonhos, nos fazia pensar estarmos no Buriti, em julho, aonde o vento ali, faz sua curva.
É muito bom curtir a vida do modo como ela se apresenta com seus vales, rios, montanhas, claros e escuros. Fomos, eu e meu marido, os maiores enamorados da VIDA.
Festa dos 15 anos da Rachel no Refugio do Guerreiro, a Casa da Bica.
1. Com amigos. 2. Com a irmã. 3. com os pais e a irmã. 4. com o tio Rômulo
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