sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

28. Refúgio do Guerreiro, construção





           
                        28. Refúgio do Guerreiro, 

              Casa da Bica,

                                                       Luana.



...e, de repente, os retalhos em suas mentes juntaram-se harmoniosos.
Cuidadosamente, com os mesmos, construíram um mundo novo.



Olhando fotos deparei-me com nosso refugio, a casa que construímos para ter as filhas e amigos conosco.



Aide e sua sobrinha, Ive,  filha do Tenoca, conversando sobre
o Refúgio de Guerreiro


Toda história tem um começo. Esta não é diferente. Começou a ser gestada quando aos 11 anos vim de Barbalha para o internato do Colégio Santa Teresa de Jesus, aqui em Crato. Amélia, uma senhora simpática, moradora da Luanda, em terras suas, as mais próximas da nascente da Batateira, foi-me apresentada por tia Zefinha, e passou a cuidar de minha roupa, lavando-a na nascente. Entre nós nasceu uma amizade que resiste ao tempo.


Mais tarde, quando retornei à Crato para cursar o Normal e Contabilidade, novamente Amélia cuidou de mim, de minhas roupas. Depois, por motivo de viagem, apresentou-me sua irmã Adília. Se Amélia me cativara, o que dizer da suave Adília? Ficamos amigas. Às segundas-feiras quando vinha à feira semanal, costumava almoçar conosco, em nossa casa à rua Tristaõ Gonçalves, 550.


Casados, Francisco Parente e eu, com casa própria e proprietários do sítio Buriti, em Santana do Cariri, e com três lindas e maravilhosas filhas, Thereza Denise, Rachel e Clarissa nos sentíamos completos, plenos.


Jesus Luna(papai) e Thereza Denise
Festa dos seus 15 anos.
Jesus Luna e Rachel nos 15 anos  da T, Denise
                                                              
Clarissa

Entretanto, nossas filhas cresceram tão rápido que, quando nos demos conta, estavam cercadas de amigos, amigas e desejosas de, como as demais amigas e amigos, passar fins de semana fora de casa, nas chácaras Ficamos apreensivos. O que fazer? Adília que ouvira nosso comentário,  perguntou-nos:


- Por que vocês não constroem uma casa bem agradável, lá pras banda do Lameiro e passam os fins de semana com as meninas?


- No Lameiro? Que conversa é essa, minha amiga?


- Ora, Aide, eu tenho um terreno que herdei de minha mãe, e quero dele  desfazer-me. Quero me mudar para São Paulo. Faço um bom preço. Prefiro saber que são vocês que moram lá.

- Bem, acho a ideia boa. Mas, será que podemos manter três casas? O que você acha da ideia, minha mulher?


- Meio maluca. Mas vamos ver o terreno.


E assim, no domingo seguinte, estávamos com Adília e Amélia olhando o terreno. Muita água. Água numa levada grade, muitas polegadas. Água numa nascente pequena. Água num grosso cano preto. De terra, um buraco grande. À primeira vista, nenhum lugar plano para uma minúscula casa. Chico Parente, amante de água, encantou-se.



- Se não houver lugar para uma casa, não faz mal. Faremos uma palhoça e do buraco, uma piscina. As meninas vão gostar. Este lugar é vizinho à nascente. É maravilhoso. Nossa água límpida, mineral, pura, nem de filtro necessitaremos.
- Calma, Parente, calma. Passemos uma vista cuidadosa por estas grotas e vejamos se há possibilidades de construirmos uma casa. Sem ela, nem pensar em comprar este terreno.

Esfregando as mãos, ele soltou uma gargalhada, olhou-me desafiante:


-Não és metida a arquiteta? Vamos lá mulher. Bota a “cuca” para funcionar. Quero ver esta charada, decifrares.


-Não me insultes, cavalheiro. Se me desafias, verás de que sou capaz. E tem mais, se eu topar o desafio, tens dinheiro para a construção?


- Se resolveres a questão. Se dirigires a construção, o mínimo, são os tostões. Adília, quanto queres por este buraco, que chamas de terreno?


- Seu doutô, o senhô constrói a casa, e nós se acerta.


- Não, Adília, não esta certo. Primeiro a escritura do terreno. Depois, quem sabe? A casa.


- Acho melhor que penses mais. Vai ser uma trabalheira. Já temos o sítio, a moagem. Para que uma casa a mais?


- Esqueceste que nossas filhas já não gostam do Buriti. Elas querem mais é ficar por aqui, com os amigos, com os primos, e daqui a pouco, para desespero meu, com os namorados. Já resolvi. Compro o terreno. E te viras,  amor meu. Mostra que és realmente boa, em tudo o que fazes.


Encantado com a abundância da água, comprou naquela mesma semana o terreno, passou a escritura e ma entregou dizendo:


- Acho que deves acertar com a Faculdade e com o Colégio, para teres um tempo e planejares nossa casa. Já acertei com compadre Miúdo. Ele está desempregado e a tua disposição. Sua família espera que o empregues, em nossa construção.


- Deus me acuda, ficaste maluco, homem? Como posso pensar em construção em tempo letivo?


- Muito fácil. Pensas que não sei que tens créditos por aulas que assumiste de colegas teus? Vira-te mulher. Em três meses, nossa casa estará pronta. Eu te conheço. Amas construir. Vamos lá, põe teus talentos a serviço da tua família.


Nossa filhas debandaram-se para o lado do pai, como sempre. Ele era o Cheirinho amado, o paizinho que as paparicava sem perder a autoridade.


Acertei minha vida na Faculdade e no Colégio Estadual Wilsom Gonçalves e naquele fim de semana, com compadre Miúdo vigiando-me, “apalpei” o terreno-buraco. Deitei-me numa esteira de palha, perto da levada grande, com papel e lápis nas mãos. Levantava um pouco a cabeça e pedia ao compadre que medisse determinada área. Ele, desanimado, disse-me:


-Minha comadre, dona Adília se desfez de uma armadilha herdada, vendendo este terreno ao compadre. Nem a senhora e nem ninguém pode construir neste terreno, sem antes fazer um grande aterro.


- Engano teu, compadre. Pega os barbantes, os pedaços de madeira que te encomendei. Pega, compadre, teus instrumentos de trabalho, vou mostrar-te a pedra angular, que guiará esta construção. Assustado, olhando-me, atendeu meu pedido. E percebeu o que não vira antes, um retângulo de terra emergindo dos barrancos. O dia foi curto para nosso trabalho. 

À tardinha, Parente, certo de que eu resolvera o problema, chegou com sua caminhoneta azul, todo prosa:


- Como é, meu compadre, minha mulher te mostrou seu lado arquitetônico?

- Ora, compadre. Minha comadre me botou no bolso. Amanhã começo a cavar os alicerces da casa.


- E a planta, compadre? E a planta? Como constróis sem planta?


- Saber, não sei. Ela marcou tudo no chão. Vai desenhar hoje no papel. Disse-me que eu podia começar. Disseste-me, compadre, que suas ordem eu obedecesse, mesmo que não concordasse. Vou fazer como ela ordenou.  Se dará certo, é com ela.


Chico Parente gostou daquela conversa. Riu, beijou-me na frente do compadre e voltou para o trabalho, animado, cantando. Mais tarde, peguei nossa brasília branca passei na papelaria de Conceição Romão, comprei o que necessitava. Voltei para nossa casa e pus-me a traçar as linhas de nosso Refugio. E, para espanto de compadre Miúdo, de Adília, lá estava a casa bonita, simples mas de linhas arrojadas. Não mexi no terreno. Segui-lhe o traçado. À primeira vista, pensava-se ser uma casa comum. Mas aquela, singela, numa sala única quatro ambientes mantinha separados, a sala de televisão, num buraco redondo com bancos de alvenaria e almofadas coloridas, arandela de crochê, sala de almoço com mesa redonda, linda, de cipó tão bem feita que ainda hoje serve e enfeita o apartamento de estudante de minha neta Liv, e espaço para cadeiras, para conversas. Quartos bem estruturados, banheiro, quarto de casal, e uma linda varanda em dois lados da casa com coberta bem firme e bela, e toras de madeiras entre colunas de pedra. A casa ficou maravilhosa.    
                                                                  
O Refugio do Guerreiro,  casa-da-bica,
 bem próximo à nascente Batateiras.

                 
Aide e Ive/ Refugio do Guerreiro/Casa-da-bica. Luanda, Crato.
       
                                               
Ive e Aíde no Refugio de Guerreiro, a casa da bica.


Depois, de acordo com o terreno, uma pródiga bica-piscina, degraus, tudo em pedra do lugar, redesenhadas com cimento. Degraus largos que muitas vezes nos serviram de “mesa” para almoço e jantar.


                                           



                        
 O lugar parecia um sonho de tão lindo. Nossa filhas com os amigos, com os namorados, não queriam outro lugar. E para completar a alegria, a família Landim Luna  adotou o Refugio do Guerreiro e o rebatizou de a Casa da Bica. O que mais nela me encantava era o jardim. Sempre florido. A grama macia e sempre verde, a água abundante. As Mangueiras sempre safrejando. A felicidade de meu marido que nunca acreditou que, de um buraco sem vida, pudesse surgir aquela maravilhas. Foi uma casa de risos, de encontros, de vida, de férias, de histórias, de sonhos. Á noite, o vento cantando no palmeiral nos embalava os sonhos, nos fazia pensar estarmos no Buriti, em julho, aonde o vento ali, faz sua curva.


Como posso hoje me lembrar do nosso Rrefugio? Com gratidão. Com respeito pelo casal perfeito que formamos eu e Francisco Parente, com nossas diferenças - lugar de nossos encontros - . Feliz porque pude continuar com a família com que Deus me presenteara. Com saudades das vezes que, enamorados, meu amado e eu saíamos de “fininho” para gozarmos da paz da nossa casa na Luanda. Até o nome do lugar evoca mistério. E aquele foi um, que nunca desvendei. Não sei como, de repente, a casa me surgiu na mente, pronta, acabada, linda.

 É muito bom curtir a vida do modo como ela se apresenta com seus vales, rios, montanhas, claros e escuros. Fomos, eu e meu marido, os maiores enamorados da VIDA.
Aide Luna Parente

     Festa dos 15 anos da Rachel no Refugio do Guerreiro, a Casa da Bica.
1. Com amigos. 2. Com a irmã. 3. com os pais e a irmã. 4. com o tio Rômulo
T. Denise, Aide, Rachel e F.Parente
                                  Rachel e Thereza Denise.                          
Fim de Festa
Rachel e o tio Rômulo Correia

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