27. Histórias do Buriti e da
Casa da bica
Na dança da vida, dança quem quer e sabe que outra oportunidade não lhe será dada. Junta seus retalhos, acaricia-os, e mais rico de saberes, saboreia a vida. |
Papai, Jesus Cruz Luna e meu marido, Francisco Ribeiro Parente, Chico Parente, aniversariam no mesmo mês, em outubro. Parente, no dia
10 e papai, no 12. Festeiros como sempre fomos, o que fazia as
delícias dos dois, a festa era sempre muito maior do que o esperado e aumentava a cada ano.
Chico Parente, alegria
personificada, encontrou nos Landim Luna a família desejada. Ria-se de tudo.
Nada o demovia do planejado: “ A vida é curta. Somente um dia para meu aniversário
festejar, é uma tristeza. Por mim, uma semana ainda seria pouco. Mas, como ficas
emburrada, contento-me com um fim de semana. Três dias inteiros, começando na sexta-feira e
terminando no domingo. A comida fica por minha conta, porque a festa é minha e
eu gosto de fartura. Mas bebida, eu não bebo, e não vou dar bebidas a ninguém.
Esses “baixa da égua” que as comprem". E saia as gargalhadas. Sempre comprou de
tudo. Mas falava só pelo gosto falar sobre sua festa.
> Ariane, Rachel e Rômulo Junior no Buriti. |
Hoje, rememorando aqueles nossos plenos dias, penso que eu era meio louca. Como
podia cuidar ao mesmo tempo de três casas, cada uma com suas louças, lençóis
toalhas, mobílias, geladeira, fogão, e tudo o mais, para não passarmos a vida
arrumando bagagens; lecionar quarenta horas semanais, cuidar da moagem,
costurar nos fins de semana e cozinhar nas festas as mais extravagantes
comidas do mundo? Só loucura ou coisa parecida, pode explicar esse meu comportamento.
Quando se aproximava o dia dos
aniversários, no início da semana antecedente, escrevia uma lista de solicitações e a enviava a compadre Pedro, o administrador de nosso sítio, o Buriti, no município de Santana do Cariri. Na sexta-feira sempre encontrava o solicitado a minha espera: um ou dois carneiros gordos abatidos com suas carnes bem tratadas, os dois porcos sangrados, limpos pendurados em galhos de uma mangueira próximo a nossa casa, perus e galinhas depenadas, limpas. O compadre esfregando as mãos indagava-me:
- E ai, minha cumade tá do gosto da senhora? Fiz tá quá a cumade gosta: sem pressa e com muito cuidado e as cumade tão lá dento de casa esperano as orde.
- Está ótimo meu compadre. Trouxe seu café e seu fumo. E a comadre Maria pôde vir?
- E ela havia de fartá? Se tá doente, quano sabe que a cumade precisa dela fica logo boa. A comade é o mior remédio que há, pra minha muié.
Em companhia das comadres, transformava um dos porco em linguiça, temperava os pernis e demais carnes, punha tudo bem arrumado em freezeres.
Na sexta-feira da semana seguinte, logo cedo, chegava ao sítio. As comadres já me esperavam com o
forno de barro, quente. E de nossas mãos saiam sequilhos, bolos, manzapes,
perus e papos de perus recheados, queijo de manteiga, queijo de prensa , doces,
os mais variados, e aluás.
Como é que eu conseguia fazer tudo aquilo? Não tenho a menor ideia.
Como é que eu conseguia fazer tudo aquilo? Não tenho a menor ideia.
Na sexta-feira, chegavam: Nibinha,( Dr Aníbal Viana de Figueiredo) e sua esposa Marineide, Antônio Alcides e Mary Stella com Marquinhos, meus irmãos
e irmãs com filhos, filhas, o pessoal de titia Nair que preferia voltar para
dormir em Juazeiro, e retornar no dia seguinte. Muita gente.
Nibinha abria a porta
da “bodega” (despensa), e exclamava:
- Precisamos de uma filmadora. A dona
desta casa é maluca. Nunca em minha vida vi mais de vinte metros de linguiça pendendo de uma corda. Ela é louca ou mágica. Agora eu sei, Chico Parente, porque você vive rindo. Com
uma mulher desta, o cabra vive rindo mesmo. Marineide, venha ver. Não há quem
acredite. Olhe Marineide, tudo organizado em caixões como numa mercearia: arroz , feijão, milho,
goma, farinha. É uma casa mágica. E eu ainda não bebi nada. Não estou tendo
visões. Eita vidão, doutorzinho! Eita que vida boa! Que pena dos colegas que não
foram convidados! Pois é, cuidado! Não convide gente chata. Só convide gente
como a gente. Gente decente que sabe curtir a vida. Viva Chico Parente! Viva Seu
Jesus! Viva a dona da Casa, dona Aide Parente, que vai aturar a gente, por três
dia. E as dançarinas do Solzinho, já chegaram? Eita Tomtom, tu hoje te acabas,
meu camarada.
- Esta é a saideira. Feche sua sanfona,
por favor. Retorne amanhã.
- Que história é essa, maninha. Eu,
Aécio Luna, rodei seiscentos quilômetros de Fortaleza até aqui, vou rodar seiscentos de volta, para a festa de
teu marido, e tu vens com esta? Toca a sanfona tocador, quem manda nesta
“jossa” aqui sou eu, o irmão mais velho. Chico que é Chico, o dono, fica ali só
cochilando, e ficas, maninha, querendo acabar com nossa alegria? Vá dormir que teu
mal é sono. Toca tocador. Esta festa só acaba quando quebrar a barra. Quer
beber tocador?
E assim a festa continuava por três
dias. Ninguém tinha o direito de dormir.
- Vamos dormir, Aécio. Precisamos
descansar. Amanhã tem mais.
Aécio, Ecim: o Primeiro Landim Luna de Barbalha. |
Parecia-me que nunca acabava. Era uma festa emendada
na outra. Só alegria. Bagunça entre irmãos que se curtem. Regosigo de primos que
se reencontram. Felicidade do dono da festa que se deliciava com as
“presepadas” daqueles que nunca teve como cunhados, mas como irmãos. Sinto uma
alegria imensa recordando nossos encontros. Será que há famílias iguais a
nossa? É muito bom ter vivido essa cumplicidade despojada, essa confiança
ilimitada que curtimos juntos. Creio que aqueles momentos me sustentaram quando os mesmos me foram tirados. Tanto bem me fizeram, que sinto hoje os sabores, os
odores, os amores, a VIDA VIVIDA INTENSA E SABIAMENTE.
Aide Luna Parente
Aide, a segunda Landim Luna de Barbalha e Arilo o quinto, também Barbalhense. Aquele que abriu a porta as outras quatro. |
é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra.
Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha, e não nos deixa só,
porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós.
Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso ."
Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha, e não nos deixa só,
porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós.
Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso ."
Ariane, A sexta Landim Luna de Barbalha |
A pedir perdão; a sonhar acordado; a acordar para a realidade (sempre que fosse
necessário); a aproveitar cada instante de felicidade; a chorar sem vergonha de
demonstrar; me ensinou a ter olhos para ' ver e ouvir estrelas', embora nem
sempre consiga entendê-las; a ver o encanto do pôr-do-sol; a sentir a dor do
adeus e do que se acaba, sempre lutando para preservar tudo o que é importante
para a felicidade do meu ser; a abrir minhas janelas para o amor; a não temer o
futuro; me ensinou e está me ensinando a aproveitar o presente, como um
presente que da vida recebi, e usá-lo como um diamante que que mesma tenha que
lapidar, lhe dando forma da maneira que eu escolher. Sou feliz amo minha vida,
minha família, meus amigos, meu amor, meus colegas, meus rivais !
Quando
me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei
a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Quando me amei
de verdade, comecei a me livrar de tudo o que não fosse saudável, pessoas,
tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse pra baixo, de inicio minha razão
chamou essa atitude de egoísmo, hoje sei que se chama amor próprio."Charles Chaplin
Ângela Marta, a nona Landim Luna de Barbalha |
Francisco Ribeiro Parente e Aide Landim Luna, barbalhenses, iniciando sua caminhada sem medo da felicidade. 07/07/1957 : Primeiro Encontro. |
"Viver, e não ter a vergonha de ser feliz.
Cantar e cantar e cantar,
A beleza de ser um eterno aprendiz.
Ah meu Deus eu sei,
Que a vida devia ser bem melhor e será.
Mas isso não impede que eu repita:
É bonita, é bonita e é bonita.
E a vida,
E a vida o que é diga lá, meu irmão
Ela é a batida de um coração.
Ela é uma doce ilusão,
Mas e a vida
Ela é maravilha ou é sofrimento
Ela é alegria ou lamento
O que é, o que é, meu irmão
Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo
É uma gota é um tempo que nem dá um segundo
Há quem fale que é um divino mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor
Você diz que é luta e prazer
Ele diz que a vida e viver
Ela diz que melhor é morrer pois amada não é
E o verbo é sofrer
Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der ou puder ou quiser
Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte
E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico
Com a pureza da resposta das crianças
É a vida, é bonita e é bonita."
A beleza de ser um eterno aprendiz.
Ah meu Deus eu sei,
Que a vida devia ser bem melhor e será.
Mas isso não impede que eu repita:
É bonita, é bonita e é bonita.
E a vida,
E a vida o que é diga lá, meu irmão
Ela é a batida de um coração.
Ela é uma doce ilusão,
Mas e a vida
Ela é maravilha ou é sofrimento
Ela é alegria ou lamento
O que é, o que é, meu irmão
Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo
É uma gota é um tempo que nem dá um segundo
Há quem fale que é um divino mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor
Você diz que é luta e prazer
Ele diz que a vida e viver
Ela diz que melhor é morrer pois amada não é
E o verbo é sofrer
Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der ou puder ou quiser
Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte
E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico
Com a pureza da resposta das crianças
É a vida, é bonita e é bonita."
Gonzaguinha
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