7. Despojamento,
vida de Cristo em nossas vidas
vida de Cristo em nossas vidas
... e os pedacinhos catados, retalhos escolhidos e combinados,
resgataram-lhe a vida.
Em nossa casa, quando ocorreu o fato a seguir, havia
uma sala que chamávamos de “a sala de visita”. Nela, um sofá de madeira com
assento em palhinha, duas cadeiras de braço, como poltronas, e mais seis
cadeiras, todas com os mesmos detalhes do sofá.
Era
moda na época, falava-se bem da
dona da casa que trazia seus móveis da sala de visita “vestidos com capas”
bordadas à máquina, ou sem bordados. Importava que as mesmas fossem brancas,
impecáveis. Por isso, tínhamos três conjuntos de cobertas, sempre limpas,
engomadas, guardadas em gavetas perfumadas.
A primogênita de nossos avós maternos, tia Elcídia, quase onze anos mais velha do que mamãe, casara-se com um promissor comerciante de
Santana do Cariri. Após o casamento, para horror e desgosto da família Maciel
Landim, o mesmo mostrou um lado escuro de sua personalidade.
Elcídia,
criada com regalias, dada a ótima situação financeira dos pais, artista nata,
amante do canto, da dança, da pintura, e, sobretudo da música, não pode
suportar a “tirania” do marido. Partiu muito jovem para a casa do Pai. Seus
filhos, Nilson, Anatole, Ena e Ivan ficaram com o pai da terra que, após
algum tempo da perda da esposa, perdeu também, por fatos que não cabe aqui
relatar, a grande fortuna amalheada.
Família Maciel Landim,( primeiros filhos)
José Batista Landim, Bárbara Maciel Landim (Neném Landim) e Elvídio.
.
Família Maciel Landim(últimos filhos)
>Emir, Nair, Elísio, Maria Iaci e Luci.
Nilson,
o primeiro filho, inteligência privilegiada, percebendo não mais poder
contar com a ajuda do pai para pagar-lhe os estudos, concorreu a uma bolsa,
incluindo internato, junto a um dos melhores colégio católico do Rio de
Janeiro. Prestado o concurso, não tendo como se manter na Cidade Maravilhosa,
retornou ao Cariri onde foi notificado que obtivera o tão sonhado prêmio. À
auspiciosa notícia, os padres diretores juntaram uma lista contendo tudo
aquilo que o futuro aluno devia providenciar para que fosse aceito no
internato. A falta de um só dos itens, redundaria em corte, em perda da
merecida bolsa.
Apavorado,
correu, como sempre o fazia, para a casa da tia Iaci. Esta e o marido
percebendo a aflição do sobrinho, sossegaram-no. Arcariam com as
despesas. A bolsa, não a perderia. O tempo era pouco como pouco também era
o capital de que dispunham. Acreditavam, porém, que conseguiriam atingir a meta a
que se propunham.
Papai,
como sempre fazia, transformou o momento de tensão em piada. Rindo, mostrava a
lista aos amigos e dizia: “este rapaz levará em sua bagagem mais tecidos do que
aqueles das lojas de nossa cidade. Que padres sabidos! Nenhuma noiva ou noivo
que eu conheça preparou para si tão grandioso enxoval. Se o rapaz permanecer 10
anos no internato não usará o que eles exigiram. Isto que enviaram não é uma
lista e sim uma comprida e sofrida ladainha. Os danados estão tão acostumados a
introduzir novas invocações as ladainhas, que o fazem com tudo o que
listam. E os pais dos alunos que se virem". Mamãe ouvia quieta suas
apreciações e depois solicitava-lhe mais ajuda para a compra dos decantados
itens.
A data estipulada para a entrada do Nilson no internato se aproximando e
a lista incompleta gritando, cobrando providencias. O que fazer?
Não era prudente retirar mais dinheiro de seu comércio, a Sapataria Boa Fama.
Se o fizessem correriam o risco de mexer no capital de giro e
necessitarem pedir empréstimos com juros escorchantes.
Os
dois, porém, não se deram por vencidos. Papai planejou vender algumas de suas
vacas, comprar o bilhete da passagem, dar ao rapaz o dinheiro referente a
compra de móveis (cama e escrivaninha), bem como para os gastos na
viagem. Mamãe achou por bem pedir-lhe que encerrasse as "conversas
engaçadas" com os amigos. Temia que as mesmas chegassem aos ouvidos
da família. Não queria que Nilson soubesse quão
sobrecarregados estavam seus tios, pela ajuda solicitada, nem desejava ver ruir
o sonho do promissor sobrinho. Ouvira-o, seguro, repetir tantas vezes que pretendia ser o melhor aluno do colégio, que sempre obteria a maior nota em
todas as disciplinas, que absorvera em si aquelas afirmações como
verdades. Faltava tão pouco do muito solicitado, que “até um milagre poderia
acontecer"...
Mamãe,
nos tempos de solteira, Associada das Filhas de Maria, amava profundamente a
Mãe do Céu, a Cheia de Graça, e buscava tê-la sempre presente em sua vida. Em
suas aflições, dores, angustias, incertezas a ela recorria acreditando que, se
fosse da vontade de Deus, seria atendida. Invocava-a como a MÃE DO PERPÉTUO
SOCORRO. E sempre que a ocasião lhe parecia propícia, procurava transmitir aos
filhos aquela certeza que guardava em si: “Ela está sempre, perpetuamente,
escutem bem, perpetualmente, a todo instante, sem se cansar ou desistir,
intercedendo pelos filhos e pelas filhas. Nunca a ela recorri em vão.” E
nos fazia repetir: “Vinde me meu socorro, ó mãe carinhosa!"
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
Vinde
em Meu Socorro, ó Mãe Carinhosa!” Com esta invocação minha mãe adormeceu
naquele noite. Na manhã seguinte abriu as gavetas onde guardava as formidáveis
capas, todas em percal ou linho e as transformou em lenços, cuecas, lençóis e
um mundaréu de coisas mais. Enxoval perfeito, completo.
Maria Iaci era assim, formidavelmente despojada. Nunca suportou ver alguém sofrendo
sem lhe prestar socorro. Nesta escola os Landim Luna foram educados.
Jossel Maciel Landim,Oficial da Marinha Mercante Brasileira |
Elnìsio Maciel Landim |
> Jossel e Elísio Maciel Landim |
SONETO
ANTIGO
Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.
Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.
O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.
Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.
Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.
Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.
O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.
Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.
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