sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

36 - Festa na Casa da Bica, Guga






                   8. O Batizado do Guga

e o retalhinho tornou-se irmão de Jesus Cristo e Filho de Deus

Ariane e Oswaldo resolveram não batizar os filhos nenezinhos, esperariam para que, quando maiores, decidissem que religião adotariam.
Os dois estudavam em um Colégio Católico em Campo Grande.  Flavinho quis ser batizado, e convidou para padrinhos a Côca e seu marido. Côca, Socorro, uma moça que morava com vovó Nemem, Barbara Maciel Landim, e que depois passou a morar com Ariane, no Rio de Janeiro foi uma segunda mãe para meus sobrinhos. Casou-se muito bem.

Guguinha, não quis conversa com padrinhos cariocas, Tetê e Cralinhos,  escolheu para padrinhos. E impôs mais:
- É lá no Crato, tia Aide festejando, que serei batizado.
E veio com Flavinho, sem os pais, passar as férias em Crato e ser batizado. Já preparado, embalado, pelas religiosas do colégio, padre Ágio o acolheu. Gentilmente, alegremente, marcou seu batizado.
Com liturgia linda, recebeu ele o batismo, tornou-se de fato e de direito cristão, filho amado do Pai. De Jesus Cristo, irmão. E habitação do Santo Espírito. Que unção invadiu todo seu ser, seu coração! O padre santo ao fazer a homilia, só a ele se dirigia. Guguinha entendeu, deu-se conta da maravilha acontecida. Concluindo o que preparara, o padre disse a assembleia atenta:
- Escutem bem, quem a Gustavo hoje abraçar, abraça o Santo Espírito que nele mora. Abraça Jesus, a quem ele está configurado, unificado. Abraça o Pai, de quem ele agora é filho amado. Gustavo é um templo do Espírito Santo. Quem o recebe, a Deus recebe, quem o ferir a Deus fere. Gutavo nunca te esqueças disto que te revelo: hoje nasceste para a eternidade, para o céu. Tiveste, filho, dois nascimentos: de tua mãezinha Ariane, e agora de Jesus, teu Salvador.
O menino assimilou tão profundamente aquelas palavras que nem a irreverência de um tio irresponsável, nem as de alguns inquietos primos, o distraíram. Abraçou o padre em lágrimas, emocionado. Chorei com ele de alegria, e outras irmãs também. Preparara salgados, docinhos, seu amado vatapá cearense, e o bendito pão recheado. Ele sem olhar para nada, ensimesmado, retirou-se. Queria ficar a sós para digerir a GRAÇA recebida. As lágrimas corriam abundantes ensopando-lhe a roupa branca. Nada comeu, não podia.  Aride, aflita,  perguntou-me:
- E o que faremos com o Guguinha ?
- Nada. Nada mesmo. É tão santo para ele este momento, que nada o satisfará. A ele, só Deus basta, neste momento.
- Ele não comeu nada, de tudo o que tu preparaste para ele. Estou preocupada.
- Guardei de tudo, um pouco. Depois que passar a emoção maior, que tardará mais do que pensas, irei até ele. Agora necessita de quietude e silêncio. É uma graça tão grande, tão única em sua vida, a que hoje recebeu, que ninguém tem o direito de o importunar. Aquieta-te, Aride. Gustavo mesmo cuidará de si. Não ouviste o que o padre disse?
O batizado do Guguinha foi as nove horas. As dezessete, não havia comido nem bebido nada, absolutamente nada. Rômulo Correia, escondendo a preocupação, buscou-o dizendo:
- E aí, Guga, nunca mais poderás falar palavrões.
O menino deu calado por resposta. Com sua roupa branca vestido, lágrimas de alegria e emoção escorrendo, nos transmitia, sem medo, sem palavras, abertamente, definitivamente, que aquele dia marcara sua vida, o transformara.
Pelas dezenove horas, conversei com ele ajudei-o a aceitar um leite quente. Disse-lhe:
- Guguina eu te entendo. Já passei por tudo o que passas hoje. É tão grande que não cabe em nós. Amanhã tu comerás de tua festa. Hoje, eu sei, já comeste mais do que o suficiente, comeste e bebeste a GRAÇA, e quando a comemos e bebemos, outros alimentos rejeitamos. Vamos para teu quarto. Ficarei contigo até que adormeças. Ele adormeceu como o anjo que era. Foi a mais santa festa que a Casa da Bica presenciou.

Somente uma coisa me incomodou: a ausência de Ariane e de Oswaldo. Eles não puderam contemplar o que meus olhos viram.

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