8. O
Batizado do Guga
e o retalhinho tornou-se irmão de Jesus Cristo e Filho de Deus |
Ariane e Oswaldo resolveram não batizar os filhos nenezinhos,
esperariam para que, quando maiores, decidissem que religião adotariam.
Os dois estudavam em um Colégio Católico em
Campo Grande. Flavinho quis ser
batizado, e convidou para padrinhos a Côca e seu marido. Côca, Socorro, uma
moça que morava com vovó Nemem, Barbara Maciel Landim, e que depois passou a
morar com Ariane, no Rio de Janeiro foi uma segunda mãe para meus sobrinhos.
Casou-se muito bem.
Guguinha, não quis conversa com padrinhos
cariocas, Tetê e Cralinhos, escolheu
para padrinhos. E impôs mais:
- É lá no Crato, tia Aide festejando, que
serei batizado.
E veio com Flavinho, sem os pais, passar as
férias em Crato e ser batizado. Já preparado, embalado, pelas religiosas do
colégio, padre Ágio o acolheu. Gentilmente, alegremente, marcou seu batizado.
Com liturgia linda, recebeu ele o batismo,
tornou-se de fato e de direito cristão, filho amado do Pai. De Jesus Cristo,
irmão. E habitação do Santo Espírito. Que unção invadiu todo seu ser, seu
coração! O padre santo ao fazer a homilia, só a ele se dirigia. Guguinha
entendeu, deu-se conta da maravilha acontecida. Concluindo o que preparara, o
padre disse a assembleia atenta:
- Escutem bem, quem a Gustavo hoje abraçar,
abraça o Santo Espírito que nele mora. Abraça Jesus, a quem ele está
configurado, unificado. Abraça o Pai, de quem ele agora é filho amado. Gustavo
é um templo do Espírito Santo. Quem o recebe, a Deus recebe, quem o ferir a
Deus fere. Gutavo nunca te esqueças disto que te revelo: hoje nasceste para a
eternidade, para o céu. Tiveste, filho, dois nascimentos: de tua mãezinha
Ariane, e agora de Jesus, teu Salvador.
O menino assimilou tão profundamente aquelas
palavras que nem a irreverência de um tio irresponsável, nem as de alguns
inquietos primos, o distraíram. Abraçou o padre em lágrimas, emocionado. Chorei
com ele de alegria, e outras irmãs também. Preparara salgados, docinhos, seu
amado vatapá cearense, e o bendito pão recheado. Ele sem olhar para nada,
ensimesmado, retirou-se. Queria ficar a sós para digerir a GRAÇA recebida. As
lágrimas corriam abundantes ensopando-lhe a roupa branca. Nada comeu, não
podia. Aride, aflita, perguntou-me:
- E o que faremos com o Guguinha ?
- Nada. Nada mesmo. É tão santo para ele este
momento, que nada o satisfará. A ele, só Deus basta, neste momento.
- Ele não comeu nada, de tudo o que tu
preparaste para ele. Estou preocupada.
- Guardei de tudo, um pouco. Depois que passar
a emoção maior, que tardará mais do que pensas, irei até ele. Agora necessita
de quietude e silêncio. É uma graça tão grande, tão única em sua vida, a que
hoje recebeu, que ninguém tem o direito de o importunar. Aquieta-te, Aride.
Gustavo mesmo cuidará de si. Não ouviste o que o padre disse?
O batizado do Guguinha foi as nove horas. As
dezessete, não havia comido nem bebido nada, absolutamente nada. Rômulo Correia,
escondendo a preocupação, buscou-o dizendo:
- E aí, Guga, nunca mais poderás falar
palavrões.
O menino deu calado por resposta. Com sua
roupa branca vestido, lágrimas de alegria e emoção escorrendo, nos transmitia,
sem medo, sem palavras, abertamente, definitivamente, que aquele dia marcara
sua vida, o transformara.
Pelas dezenove horas, conversei com ele
ajudei-o a aceitar um leite quente. Disse-lhe:
- Guguina eu te entendo. Já passei por tudo o
que passas hoje. É tão grande que não cabe em nós. Amanhã tu comerás de tua
festa. Hoje, eu sei, já comeste mais do que o suficiente, comeste e bebeste a
GRAÇA, e quando a comemos e bebemos, outros alimentos rejeitamos. Vamos para
teu quarto. Ficarei contigo até que adormeças. Ele adormeceu como o anjo que
era. Foi a mais santa festa que a Casa da Bica presenciou.
Somente uma coisa me incomodou: a ausência de
Ariane e de Oswaldo. Eles não puderam contemplar o que meus olhos viram.
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