3. A Felicidade do Oto
..e no paraíso Buriti os retalhinhos L. Luna sedimentavam sua amizade. |
Aristênio
e Chinha , Nádia, gostavam de passar as féria conosco no Buriti. Naquele ano,
Oto, o caçulinha, era pequenino. Nádia, minha cunhada muito querida, tinha
mania de limpeza. No Buriti, só duas coisas sabia fazer: rir de tudo, transparecendo sua
felicidade, e limpar seus filhos.
No mês de julho, no Buriti, o frio é grande, a água nas torneiras é geladíssima. Nádia, cada vez que o Oto fazia xixi, o levava até a uma pia que ficava na sala de jantar, e ali lavava o bumbum do neném. O Oto quando entrava na referida sala e olhava par a pia gritava apavorado. Cada vez que Nádia limpava o Oto na pia eu reclamava e pedia:
>Iúri, Nádia, Oto, Liv e Aristênio |
No mês de julho, no Buriti, o frio é grande, a água nas torneiras é geladíssima. Nádia, cada vez que o Oto fazia xixi, o levava até a uma pia que ficava na sala de jantar, e ali lavava o bumbum do neném. O Oto quando entrava na referida sala e olhava par a pia gritava apavorado. Cada vez que Nádia limpava o Oto na pia eu reclamava e pedia:
- Chinhazinha, deixa que eu morne
água para que limpes o Oto.
> Clarissa, Ive, Danielle, Aristênio com Oto e Yuri. No Sítio Buriti. (época da história aqui contada.) |
Passados alguns dias, ela perguntou-me se eu ficaria com seus filhos enquanto ela e o marido passeariam pelas praias
do Nordeste.
- É
claro que sim, Nádia. Cuidarei bem deles. Oto será um neném feliz.
-
Mas com tantas crianças? Dará certo?
-
Certíssimo, Chinha. Certíssimo. Meus sobrinhos sempre passam as férias comigo e
nunca houve o menor problema.
-
Parece-me que este ano são mais numerosos.
> Iaci com Oto e Rachel |
-Mas o
Oto é um bebê. Vai tirar tua liberdade.
-Bem
Chinha, já te dei minha opinião. Resolva como quiseres. Com relação as crianças, não te
preocupes,cuidarei bem delas. Sabes, e muito bem, que até hoje nunca nos
causaram aborrecimentos. São crianças ótimas. À noite estão tão cansadas de
tantas brincadeiras que adormecem ao redor da fogueira e só acordam no dia
seguinte.
- Vou
combinar com o Ari e te falarei mais tarde.
Duas
das pessoas que passavam as féria conosco e que ouviram nossa conversa, não
concordaram com aquilo que falei: Marquinhos, filho da minha prima Mary
Stella e Edênia, minha prima-irmã. Marquinhos pediu-me uma
“audiência” e expressou o que tinha no coração:
-
Tia, é menino demais para a senhora cuidar. Tio Chico passa o dia no Crato, os
pais de seus sobrinhos só aparecem nos fins de semana. A senhora vai se cansar
à toa. Se fosse na casa da tia Zélia, a peia comia. É uma boa o que vou
sugerir. Pegue um chicote grande daqueles dos cambiteiros e pendure no armador
da sala da frente. Ordene a meninada que se comporte ou o chicote cantará em
seus lombos. Essa cambada vai ter medo e se comportará direito.
-
Marquinhos, estás maluco? Nenhuma criança me dá trabalho. Todas passam o dia na
bagaceira, no couro do bagaço. Não brigam, dormem cedo na hora da fogueira.
Ninguém aqui vai apanhar. Eu nunca bati em meus irmãos, nem em minhas filhas.
-
Mas agora, tia, é diferente. A cambada tá grande. A senhora vai se cansar.
- Está bem. Vou pensar no assunto e depois que Tenoca e Nádia saírem, eu falo
contigo.
-
Pois assim tá bom, tia.
Edênia,
triste, perguntou-me:
-
E agora Ida, como é que nós vamos jogar nosso baralho? Quem cuida do Oto? Não
vais ter tempo. Eu só gosto de jogar contigo. És minha parceira. Ganhamos
sempre.
-
Fica fria, Edênia. Vamos jogar a tarde inteira. Oto dormirá cedo e a noite
toda. Ele comigo será feliz, sem traumas. Nada de mamadeiras à noite toda. Vais
ver, para creres.
> Iúri, Aline, Marquinhos e Alexandre. |
Mal
Aristênio e Nádia partiram, Marquinhos reuniu o bando e avisou que eu queria
urgentemente, falar com todos: meninos e meninas.
-
Tia, nós estamos aqui. O que é que a senhora tem para nos dizer?
-
Eu ? Tenho a dizer?
-
Sim, tia, aquela conversa que a senhora teve comigo hoje pela manhã. Lembra-te,
tia?
-
Ah, sim, Marquinhos. Prestem bem atenção. Eu tenho um comunicado a fazer. E
quero que prestem bem atenção. Aquelas regras que o tio Chico ditou, valem
sempre. Vocês podem correr, brincar na bagaceira, no couro do bagaço, passear
de cavalo, fazer o que quiserem. Mas na fornalha, no engenho, no lugar dos
tachos, estão proibidos de entrar. Compadre Pedro dará alfenins, garapa, rapadura
quente, sempre que pedirem. Podem pedir ao compadre para ele mandar
cozinhar batata doce, bananas e o que quiserem no mel do engenho. Mas nunca,
nunca mesmo, nem que o cão tente, podem entrar no engenho. Não desobedeçam. Se
me prometerem, eu aceito a palavra que me derem.
-
Prometemos, tia.
-
Juram?
-
Juramos.
-
A tia fica feliz. Mas tem mais uma coisa. Olhem para este caminho de pedra
que termina em nossa calçada. Pois bem, por maior que seja a briga que tiverem,
por maior que seja o desentendimento, resolvam tudo com justiça, antes de
chegarem a este caminhozinho. Não quero ouvir, nem ver ninguém choramingando,
sendo coitadinho. Quem brigar, faça logo as pazes. Nada de intrigas nem de
fuxicos. Tudo correto. Quem chegara aqui com lero-lero, vai se arrepender. O
sítio é mais dos sobrinhos , das sobrinhas e das filhas, do que nosso, meu e do tio Chico. Tudo que temos aqui : cavalos, amigos, comida, está à disposição de
vocês. Os moradores do sítio Buriti, são pessoas maravilhosas e ajudam -me a cuidar de vocês. Não tenham medo. Há muita gente zelando por vocês, meus
queridos. Maria de Joel, a quem vocês chamam Maria Pretinha, está aqui
somente para fazer as comidinhas que desejarem. Entenderam?
-
Sim Tia. Está tudo bem. Podemos ir?
-
Mais uma coisa: ninguém vai ao rio sem antes falar comigo. Acertado?
- Acertadíssimo. Já podemos ir?
-Só
uma coisa a mais. Não gostarão. Estão vendo aquele chicote pendurado armador?
Pois bem, se algum de vocês chegar com brigas ou desobedecer as recomendações
do tio Chico, vai levar chicotadas.
-Tia,
Tens coragem de nos bater?
-
Experimenta, Marquinho, e verás. Queres experimentar? Tenta e espera se queres
provar alguma coisa... E para ti, Marquinhos, tem mais : eu te mando de volta
para tua casa. Gostas-te, Marquinhos?
-
Senti firmeza, tia. Vai dar certo.
E
deu. Sempre felizes, nunca os vi tristes nem desconsolados. Eram crianças
alegres, livres, mas com limites estabelecidos. Nunca compadre Pedro reclamou
de nenhum deles. À noite, todos os dias, fazíamos uma linda fogueira e em
preguiçosas, ouviam histórias que eu inventava e ali, depois de o leite bebido
com bolos e biscoitos, adormeciam. Tio Chico pegava-os um, a um, e os punham
nas redes , nas camas. Eu gostava de sua companhia e eles da minha.
Entendiamos-nos muito bem.
E
o Oto? Bem , eu pedi pela manhã a uma das pessoas que me ajudavam na casa,
que lavasse muito bem nossa sala de piso branco, de lages da Santana e o
enxugasse bem. À tarde, fechei todas as portas da referida sala, retirei as
cadeiras, sentei o Oto no chão e lhe dei quase um quarto de rapadura bem
amarrada numa fralda. Ele me olhou, sorriu e começou a lamber a rapadura e dar
gritinhos de prazer. Disse-lhe como se ele me entendesse:
-
Oto, serás um menino sujinho, mas feliz. Nunca vou lavar teu bumbum
naquela pia feia e fria. Divirta-se, bebezinho.
-
Glu, glu, glu.
E
fui para a sala vizinha, para nosso carteado. Nos intervalos, enquanto o
baralho era traçado, uma de nos ia até a sala. Oto feliz, festejava. Até que
adormecia. Levava-o para seu bercinho, todo meladinho de rapadura. Pedia a ama
que preparasse um mingau que ele bebia dormindo, e assim permanecia até
ao anoitecer. Comia sopinhas, papa de frutas. Nunca a água fria o tocou.
Apascentado, ria, chupava a rapadura, tarde, após tarde, feliz, e nós também,
com nosso carteado.
À
noite era uma discussão depois que a criançada dormia. As jogadoras queriam
jogar. Eu também queria, mas avisava:
-
Se deixarem a janela aberta, não jogo. Tenho medo de disco voador.
-
Estás ficando besta Ida? Como podes ter medo daquilo que não existe.
-
Bem, vocês têm medo de alma. Eu tenho de disco voador.
-
Mas se fecharmos a janela, fica quente, sem graça.
-
Pois eu vou dormir. Com a janela aberta, não jogo. Pode ser que um extra-
terrestre venha me pegar.Tenho medo, pavor, a disco voador.
É
uma vergonha. Estás curtindo com nossa cara.
-
Não. Não é curtição. É medo mesmo. Como é, fecham a janela, ou não?
-
Está bem. Ganhaste, vamos jogar.
Edênia
não acreditando que meu medo era real, perguntou a meu marido:
-
Ela tem medo sim. Fica lendo umas bobagens, vendo na televisão e acredita que
existem discos voadores e que eles vêm pegá-la. Esta minha mulher tem
dessas coisas.
Quando
Aristênio e Nádia regressaram, encontraram o Oto dormindo a noite inteira.
Estava limpinho, mas sem exageros. Ela prometeu-me que nunca mais o lavaria na
pia fria. Depois, meio sem jeito, perguntou-me sobre o chicote, se eu bateria
nas crianças.
-
Estás maluca, cunhada. Nunca bati em ninguém. Se teus filhos tiveram medo, é
por que não me conhecem. Como eu bateria numa criança? És mesmo uma pedagoga
tonta, minha Chinha, criança precisa ter limites.
-
Mas o Iúri teve medo. Ele me disse.
-
Ah, Chinhazinha, ele te disse, mas não a mim. Ele sabe que nunca tratei nenhum
sobrinho, irmão, irmã, ou filhas com pancadas nem com gritos. Respeito a todos
e por todos sou respeitada. Fica calma. Nenhum trauma causei a teus filhos. São
crianças ótimas, há nelas somente o bem. Também, minha cunhada, eles pertencem
a uma família que é boa na essência. Nunca um filho teu te causará dissabores,
são Landim Luna. Neles, a esperança e a alegria serão seus guias.
.> Aristênio e o Oto ( aquele que lambeu rapadura) |
na frente> Iaci e Iara( filhas da Ive),Mariana do Iure e Thais. Atrás:> Iure, Nádia e Oto . |
> Arilo, Oto, Rômulo Junior e Alexandre. |
Iure e Ivânia.. |
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