sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

31 - Histórias do Buriti, Oto




            3. A Felicidade do Oto


..e no paraíso Buriti os retalhinhos L. Luna sedimentavam sua amizade. 



Aristênio e Chinha , Nádia, gostavam de passar as féria conosco no Buriti. Naquele ano, Oto, o caçulinha, era pequenino. Nádia, minha cunhada muito querida, tinha mania de limpeza. No Buriti, só duas coisas sabia fazer: rir de tudo, transparecendo sua felicidade, e limpar seus filhos. 
>Iúri, Nádia, Oto, Liv e Aristênio


No mês de julho, no Buriti, o frio é grande, a água nas torneiras é geladíssima. Nádia, cada vez que o Oto fazia xixi, o levava até a uma pia que ficava na sala de jantar, e ali lavava o bumbum do neném. O Oto quando entrava na referida sala e olhava par a pia gritava apavorado.  Cada vez que Nádia limpava o Oto na pia eu reclamava e pedia:

- Chinhazinha,  deixa que eu morne água para que limpes o Oto.

- Bobagens Ida. Ele está acostumado com o frio. Nada de água morna. Água fria faz bem a pele..
> Clarissa, Ive, Danielle, Aristênio com Oto e Yuri.
No Sítio Buriti. (época da história aqui contada.)
Passados alguns dias, ela  perguntou-me se eu ficaria com seus filhos enquanto ela e o marido passeariam pelas praias do Nordeste.
- É claro que sim, Nádia. Cuidarei bem deles. Oto será um neném feliz.

- Mas com tantas crianças? Dará certo?

- Certíssimo, Chinha. Certíssimo. Meus sobrinhos sempre passam as férias comigo e nunca houve o menor problema.

- Parece-me que este ano são mais numerosos.
- Não Nádia. O número é o mesmo: os filhos do Arilo, da Aride, do Aécio, os teus, minhas filhas e o  Marquinhos.  É bom que fiques um pouco a sós com o Tenoca. Aqui no sítio temos muita gente para nos ajudar. Teus filhos passam o dia todo brincando com os primos. Vá passear em paz. Se perderes esta oportunidade, não passas de uma tonta..
> Iaci com Oto e Rachel
  

-Mas o Oto é um bebê. Vai tirar tua liberdade.
-Bem Chinha, já te dei minha opinião. Resolva  como quiseres. Com relação as crianças, não te preocupes,cuidarei bem delas. Sabes, e muito bem, que até hoje nunca nos causaram aborrecimentos. São crianças ótimas. À noite estão tão cansadas de tantas brincadeiras que adormecem ao redor da fogueira e só acordam no dia seguinte.
- Vou combinar com o Ari e te falarei mais tarde.

Duas das pessoas que passavam as féria conosco e que ouviram nossa conversa, não concordaram com aquilo que  falei: Marquinhos, filho da minha prima Mary Stella  e Edênia, minha prima-irmã. Marquinhos pediu-me uma “audiência” e expressou o que tinha no coração:
- Tia, é menino demais para a senhora cuidar. Tio Chico passa o dia no Crato, os pais de seus sobrinhos só aparecem nos fins de semana. A senhora vai se cansar à toa.  Se fosse na casa da tia Zélia, a peia comia. É uma boa o que vou sugerir. Pegue um chicote grande daqueles dos cambiteiros e pendure no armador da sala da frente. Ordene a meninada que se comporte ou o chicote cantará em seus lombos. Essa cambada vai ter medo e se comportará direito.

- Marquinhos, estás maluco? Nenhuma criança me dá trabalho. Todas passam o dia na bagaceira, no couro do bagaço. Não brigam, dormem cedo na hora da fogueira. Ninguém aqui vai apanhar. Eu nunca bati em meus irmãos, nem em minhas filhas.

- Mas agora, tia, é diferente. A cambada tá grande. A senhora vai se cansar.
- Está bem. Vou pensar no assunto e depois que Tenoca e Nádia saírem, eu falo contigo.
- Pois assim tá bom, tia.

Edênia, triste, perguntou-me:
- E agora Ida, como é que nós vamos jogar nosso baralho? Quem cuida do Oto? Não vais ter tempo. Eu só gosto de jogar contigo. És minha parceira. Ganhamos sempre.
- Fica fria, Edênia. Vamos jogar a tarde inteira. Oto dormirá cedo e a noite toda. Ele comigo será feliz, sem traumas. Nada de mamadeiras à noite toda. Vais ver, para creres.


> Iúri, Aline, Marquinhos e Alexandre.
Mal Aristênio e Nádia partiram, Marquinhos reuniu o bando e avisou que eu queria urgentemente, falar com todos: meninos e meninas.
- Tia, nós estamos aqui. O que é que a senhora tem para nos dizer?
- Eu ? Tenho a dizer?
- Sim, tia, aquela conversa que a senhora teve comigo hoje pela manhã. Lembra-te, tia?
- Ah, sim, Marquinhos. Prestem bem atenção. Eu tenho um comunicado a fazer. E quero que prestem bem atenção. Aquelas regras que o tio Chico ditou, valem sempre. Vocês podem correr, brincar na bagaceira, no couro do bagaço, passear de cavalo, fazer o que quiserem. Mas na fornalha, no engenho, no lugar dos tachos, estão proibidos de entrar. Compadre Pedro dará alfenins, garapa, rapadura quente, sempre que pedirem. Podem pedir ao compadre para ele mandar cozinhar batata doce, bananas e o que quiserem no mel do engenho. Mas nunca, nunca mesmo, nem que o cão tente, podem entrar no engenho. Não desobedeçam. Se me prometerem, eu aceito a palavra que me derem.
- Prometemos, tia.
- Juram?
- Juramos.
- A tia fica feliz. Mas tem mais uma coisa. Olhem para este caminho de pedra que termina em nossa calçada. Pois bem, por maior que seja a briga que tiverem, por maior que seja o desentendimento, resolvam tudo com justiça, antes de chegarem a este caminhozinho. Não quero ouvir, nem ver ninguém choramingando, sendo coitadinho. Quem brigar, faça logo as pazes. Nada de intrigas nem de fuxicos. Tudo correto. Quem chegara aqui com lero-lero, vai se arrepender. O sítio  é mais dos  sobrinhos , das sobrinhas e das filhas, do que nosso, meu e do tio Chico.  Tudo que temos aqui : cavalos, amigos, comida, está à disposição de vocês.  Os moradores do sítio Buriti, são pessoas maravilhosas e  ajudam -me a cuidar de vocês. Não tenham medo. Há muita gente zelando por vocês, meus queridos.  Maria de Joel, a quem vocês chamam Maria Pretinha, está aqui somente para fazer as comidinhas que desejarem. Entenderam?
- Sim Tia. Está tudo bem. Podemos ir?
- Mais uma coisa: ninguém vai ao rio sem antes falar comigo. Acertado?
- Acertadíssimo. Já podemos ir?
-Só uma coisa a mais. Não gostarão. Estão vendo aquele chicote pendurado armador? Pois bem, se algum de vocês chegar com brigas ou desobedecer as recomendações do tio Chico, vai levar chicotadas.
-Tia, Tens coragem de nos bater?
- Experimenta, Marquinho, e verás. Queres experimentar? Tenta e espera se queres provar alguma coisa... E para ti, Marquinhos, tem mais : eu te mando de volta para tua casa. Gostas-te, Marquinhos?
- Senti firmeza, tia. Vai dar certo.
E deu. Sempre felizes, nunca os vi tristes nem desconsolados. Eram crianças alegres, livres, mas com limites estabelecidos. Nunca compadre Pedro reclamou de nenhum deles. À noite, todos os dias, fazíamos uma linda fogueira e em preguiçosas, ouviam histórias que eu inventava e ali, depois de o leite bebido com bolos e biscoitos, adormeciam. Tio Chico pegava-os um, a um, e os punham nas redes , nas camas. Eu gostava de sua companhia e eles da minha. Entendiamos-nos muito bem.




  
E o Oto? Bem , eu pedi pela manhã a uma das pessoas que me ajudavam na casa, que lavasse muito bem nossa sala de piso branco, de lages da Santana e o enxugasse bem. À tarde, fechei todas as portas da referida sala, retirei as cadeiras, sentei o Oto no chão e lhe dei quase um quarto de rapadura bem amarrada numa fralda. Ele me olhou, sorriu e começou a lamber a rapadura e dar gritinhos de prazer. Disse-lhe como se ele me entendesse:
- Oto,  serás um menino sujinho, mas feliz. Nunca vou lavar teu bumbum naquela pia feia e fria. Divirta-se, bebezinho.
- Glu, glu, glu.
E fui  para a sala vizinha, para nosso carteado. Nos intervalos, enquanto o baralho era traçado, uma de nos ia até a sala. Oto feliz, festejava. Até que adormecia. Levava-o para seu bercinho, todo meladinho de rapadura. Pedia a ama que preparasse um mingau que ele  bebia dormindo, e assim permanecia até ao anoitecer. Comia sopinhas, papa de frutas. Nunca a água fria o tocou. Apascentado, ria, chupava a rapadura, tarde, após tarde, feliz, e nós também, com nosso carteado.

À noite era uma discussão depois que a criançada dormia. As jogadoras queriam jogar. Eu também queria, mas avisava:

- Se deixarem a janela aberta, não jogo. Tenho medo de disco voador.
- Estás ficando besta Ida? Como podes ter medo daquilo que não existe.
- Bem,  vocês têm medo de alma. Eu tenho de disco voador.
- Mas se fecharmos a janela, fica quente, sem graça.
- Pois eu vou dormir. Com a janela aberta, não jogo. Pode ser que um extra- terrestre venha me pegar.Tenho medo, pavor, a disco voador.
É uma vergonha. Estás curtindo com nossa cara.
- Não. Não é curtição. É medo mesmo. Como é, fecham a janela, ou não?
- Está bem. Ganhaste, vamos jogar.

E passávamos a noite comendo uma porção de bobagens, jogando e rindo.
Edênia não acreditando que meu medo era real, perguntou a meu marido:
- Ela tem medo sim. Fica lendo umas bobagens, vendo na televisão e acredita que existem discos voadores e que eles vêm  pegá-la. Esta minha mulher tem dessas coisas.

Quando Aristênio e Nádia regressaram, encontraram o Oto dormindo a noite inteira. Estava limpinho, mas sem exageros. Ela prometeu-me que nunca mais o lavaria na pia fria. Depois, meio sem jeito,  perguntou-me sobre o chicote, se eu bateria nas crianças.

- Estás maluca, cunhada. Nunca bati em ninguém. Se teus filhos tiveram medo, é por que não me conhecem. Como eu bateria numa criança? És mesmo uma pedagoga tonta, minha Chinha, criança precisa  ter limites.

- Mas o Iúri teve medo. Ele me disse.

- Ah, Chinhazinha, ele te disse, mas não a mim. Ele sabe que nunca tratei nenhum sobrinho, irmão, irmã, ou filhas com pancadas nem com gritos. Respeito a todos e por todos sou respeitada. Fica calma. Nenhum trauma causei a teus filhos. São crianças ótimas, há nelas somente o bem. Também, minha cunhada, eles pertencem a uma família que é boa na essência. Nunca um filho teu te causará dissabores, são Landim Luna. Neles, a esperança e a alegria serão seus guias.

.> Aristênio e o Oto ( aquele que lambeu rapadura)
na frente> Iaci e Iara( filhas da Ive),Mariana do Iure e Thais.
Atrás:> Iure, Nádia e Oto .
> Arilo, Oto, Rômulo Junior e Alexandre.
Iure e Ivânia..




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