sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

35 - Natal na Casa da Bica - Papai Noel Nordestino



            

                      7. Papai Noel Nordestino


 Unidos, costurados, os retalhos tornavam-se colcha no Natal. 


Novamente reunida, a família Landim Luna, celebravam o Natal.
Romim, Rômulo Junior, resolveu que se vestiria de Papai Noel. Aride, sua mãe, caprichou na fantasia. Resolvemos guardar segredo. A criançada só saberia do Papai Noel quando a NOITE DE NATAL CHEGASSE.
Assim, por volta das sete horas da noite, Romim bateu no portão da Casa da Bica. A criançada, alvoroçada, deparou-se com o Papai Noel mais amável , mais risonho  e mais nordestino de todos os tempos: um Papai Noel muito magro.

Lellis , Aride, Romim e Flávio.

Guga, (Gustavo), filho de Oswaldo e Ariane, era pequeno, com menos de cinco anos. Impressionou-se com aquele Papai Noel.
Bruno, Rômulo Junior de Papai Noel e Flávio


-Mãe, põe uma comidinha para Papai Noel. Coitadinho dele, mãe, tão magrinho e cansado!
Sentou-se ao lado do Papai Noel, entrelaçou seus dedos nos dele, e o olhava compadecido. Nós sabíamos que Guga era muito ético, muito verdadeiro. Ficava bravo facilmente, mas nunca mentia ou falseava a verdade. Também não tinha ainda a capacidade de abstrair. O que via, era sua verdade. E naquela noite, sua verdade era uma só: Papai Noel estava muito velhinho, cansado, esfomeado. Se ele não o cuidasse, o velhinho não poderia cumprir sua tarefa de distribuir presentes para as crianças.
No início, rimos. Mas depois percebendo quão impressionado Guga ficara. Tentamos tirá-lo do lado do Papai Noel. Ele  recusou-se a sair, e segredou para a mãe:
- Mãe, ele nem botas tem. É um coitadinho de chinelo. Vamos comprar-lhe umas botas.
Guga sempre foi especial. Quando zangado, uma cartilha de palavrões. Amoroso,  derretia-se quando mimado. Um dia, muito sério me pediu:
-Tia me dê esta bica. Gosto tanto dela.
- É tua, Guguinha mas como a levaras para tua casa no Rio de Janeiro?
Ora tia, num caminhão. Ela cabe num caminhão. Vou levá-la, tia. Gosto demais dela.




Tinha umas manias. Entre elas a de só comer o que lhe desse na telha. Um dia cismou e me exigiu que lhe fizesse quiabo frito.
- Quiabo frito, Guguinha, nunca soube que se fritasse quiabo.
- Mas eu quero, tia. Quero comer, e sou vou comer, quiabo frito.
Ele amava a comida que lhe preparava. No Rio de Janeiro, depois de umas férias aqui em Crato, para a festa de seu aniversário, exigiu que fosse servida  “a comida da tia Aide”: vatapá cearense, pão recheado, igualzinho ao da tia. Ariane não conseguiu demovê-lo da ideia e telefonou-me. Eu lhe passei as receitas que inventara. Ariane “se virou”, e fez a festa do filho como ele queria.
Em outro Natal, quando a casa ainda não era murada, no Ano Novo, Nádia sentiu saudades e falta do mar. Queria fazer oferendas a Iemanjá.
- Que bobagem, Nádia. Aqui não temos mar.
- Temos fonte, Ida, o que é bem melhor. Tu não aceitas que ofertemos flores a Iemanjá?
- Iemanjá? Que coisa, Nadía, se fosse a nossa mãe Maria, até eu aderiria. Iemanjá?
- Iremos eu e as crianças. Todas elas querem ir. Impedes nossa visita?
- Claro que não. Minhas filhas não irão. Vá, cunhada, és mesmo amalucada. A fonte fica bem perto, entretanto, é noite, está muito escuro. Como pensas tu em lá chegar nesta escuridão tão grande?
- Muito fácil, Ida, levaremos lanternas. VAMOS MENINAAAAAAAAAAAAAAAAAAAADA.
- Nádia, cuidado com a mata. O caminho é bem estreito.
- Não te preocupes? Estaremos bem.
- E lá foi ela, com a “cambada”. 
Arilo ouviu a conversa. Buscou um lençol branco, e sem que eu soubesse, partiu para aprontar: assombrar a sobrinhada. Esquecera-se dos filhos pequenos : Alexandre,  Danielle, Caroline, e Bubu, Bruno. Pôs-se numa encruzilhada coberto com o lençol branco e com uma lanterna acesa embaixo do queixo.
Voltando da nascente, cantando, as crianças e Nádia  depararam-se com a “visagem”. Gritos, correria no escuro. Um estouro de boiada. Ele então percebeu que sua filha pequena, Carol, emudecida, estarrecida, engessara. Virara estátua. Correu para ela, sem se dar conta que o lençol o envolvia, o cobria.
- Carol, sou eu o painho.
Carol, ouvindo o fantasma chamá-la pelo nome, desengessou-se. Pôs-se a correr pela mata, desgovernada, alucinada, aterrorizada. O pai, estarrecido, corria traz dela. Quanto mais  tentava convencê-la ser seu pai, mais apavorada a menina ficava. Como um fantasma poderia ser seu pai? Tapava os ouvidos para não ouvi-lo e mais entrava na mata... mais sofria.
- Não tenhas medo, minha filha, sou eu.
Arranhadas, aterrorizadas, machucadas as crianças, gritando, chorando, gemendo, em nossa casa chegaram. Arilo, por fim percebeu que o “feitiço” virara contra ele. Jogou o lençol fora, pegou Carol no colo, desmaiada, assombrada, soluçante, ofegante.
Mas a lição não lhe serviu. Só agora, pai da Bárbara, para a filhinha não pagar por ele, as presepadas deixou.

E o Guga? Ó, o Guguinha, cresceu casou-se com Luciana, uma morena alta e bonita, sua paixão. É pai do Mateus e da Luna, pai coruja, mas coruja do que eu.


Na frente> Carlinhos, Alira,Carla, Daniella, Clarissa, Flávio, Gustavo e Caroline.
Atrás> Oswaldo, Rômulo, Arilo, Lia, Romim de Papai Noel, Aride, T. denise, Alexandre, Aide, Chico Prente e Dudu.

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