2. A Congestão
Reunidos, em férias, os retalhos aprontavam confusões. |
Em janeiro daquele ano, a família
Landim Luna bem representada, a família Landim Leite presente nos fins de
semana bem como parentes e amigos: Nibinha( Dr. Anibal Viana de Figueiredo) e família, Antônio Alcides, Mary e
Marquinhos. Muita gente. Ferias escolares. A vida no Buriti era festejada a
cada dia.
Naquele domingo, logo cedo, quando eu
procurava encontrar um lugar para guardar um panela de cinco litros de doce de
leite, Toinho “cismou” que deveria temperar meu doce com jau. Jau, para quem não
sabe , é um extrato, um perfume terrível, vendido nas bancas das feiras livres das cidades caririenses.
Um perfume que depois de ser usado, não há banhos que o ponha a correr. É
teimoso, persistente, dá dor de cabeça, empesta qualquer ambiente. Toinho adorava
o tal jau. Nunca foi ao Buriti sem o levar para passar nas pessoas do lugar
que, agradecidas, louvavam seu gesto: “Aquele seu Toinho é mesmo bom, traz
perfume para nós”.
Quando me dei conta de que Tomtom
pretendia “batizar” meu doce, corri abarçada com a panela. Eu corria, ele corria
atrás com o frasco do perfume na mão, tentando convencer-me de que o
doce ficaria mais saboroso com aquele horror. Percebi que ele venceria aquela
batalha. Comecei a gritar apavorada. Nibinha veio em meu socorro.
-Estás maluco, Antônio Alcides? Toda
brincadeira tem limites. Queres matar nossa anfitriã?
- Deixa de besteira. Eu só quero provar
que com meu perfume o doce fica melhor.
- Pois vais provar em tua casa. Aqui,
não.
Segurou-o pelos braços, passou-lhe um "bom sermão". Antônio
Alcides, por fim, deu-se conta da bobagem que pretendia fazer. Chegou-se a mim
e desculpou-se:
- Não fiz por mal. Estás chateada
comigo?
- Não Toinho. Eu sei que gostas demais
desse horripilante jau. Comes e dormes jau. Coitada da Mary!
-Ela gosta do cheiro.
- Ela é tão maluca quanto tu, Tomtom.
E na hora do almoço, o cardápio pesado
como sempre o são nos sítios do Cariri: carneirada, pirão, aroz-de-festa, peru
assado no forno de barro, feijão temperado com carnes e linguiça, e outras
coisas mais, olhei para o bando de “maluquetes”, meus irmãos, pedi-lhes que
após o almoço sossegassem e deixassem os banhos na bica, na
piscina e no açude para mais tarde. E acrescentei: “ Não se brinca com pirão e
carneirada. Demorem conversando, porque não quero que nossa festa acabe em tragédias".
- Acertado, maninha. Falou a sabedoria.
Nada de banhos minha gente. Comamos e nos aquietemos. Evitemos congestões.
Fiquei orgulhosa de todos. Tão gentis.
Tão obedientes...
Arilo e Aristênio, tão logo terminaram o
almoço, foram à bica rindo de mim, tramando algo. Combinaram que Arilo
forjaria uma congestão enquanto o irmão, aflito, informar-me–ia do ocorrido e carregaria na cena a ser descrita: "Maninha, venha nos ajudar. O Arilo está de
boca torta e com convulsões, lá na bica". Após o planejado, deixando o irmão na bica, Tenoca saiu
para fazer o anuncio. Entretanto, ao deparar-se com compadre Pedro conversando animadamente, contando algum 'causo', esqueceu-se totalmente do planejado. O tampo passava e,
expectante, Arilo não ouvia meus gritos. Percebendo que o plano A, falhara,
passou ao B. Levantou-se do chão, revirou os olhos, entortou a boca, os
braços e as pernas e fingiu que capengava em direção à nossa casa.
Sossegada a casa, muitos dos convidados
conversando na primeira sala, outros cochilando em redes, resolvi organizar a
sala de almoço e preparar pratos para aqueles que ainda não haviam
almoçado. Limpando e organizando a mesa, peguei nas mãos uma tigela grande com
carneirada,quando virei a cabeça e olhei para o terreiro de nossa casa, estarrecida, vi a situação do Arilo. Soltei um grande grito, e com o
mesmo, a tigela. Não sei como não desmaiei. Uma dor enorme em meu peito, um
choro alto e convulso tomou-me por inteiro. Chico Parente ao ouvir-me chorar veio
correndo até à sala onde eu estava.
- O que foi que aconteceu? Que tens?
Estás doente?
Eu chorava. Não podia falar.
- O que aconteceu? Aonde estão as meninas? Alguém te machucou?Acalma-te, diz-me o que aconteceu.
E Arilo, todo se tremendo fingido-se
doente, adentrou . Ele não sabia que com o amor do Chico, não se mexe em
sua presença...
- És um irresponsável. Isto é brincadeira
que se faça? Queres matar tua irmã? Que graças achas em fazê-la sofrer?
Acabaste com a festa. Estás contente?
Arilo ainda hoje tenta convencer a
todos nós que Parente nunca lhe deu uma bronca. Mas, na verdade, naquela tarde,
ele a recebeu, e bem dada, pelo dono da casa, que cheio de moral avisou:
- Quem quiser jantar, que faça a janta.
Eu e minha mulher vamos passear longe daqui até que minha raiva desapareça.
Fomos á casa de sua irmã, Maria
Parente. Lá jantamos. Só a noitinha retornamos já restabelecidos. Ele jurando-me
que nunca mais aceitaria brincadeiras tolas. Depois, como sempre, esquecendo-se
do incidente e rindo-se das “presepadas” de meus irmãos.
Jesus Luna com genros e noras- Sítio Buriti. Francisco Parente, Alira, Seu Jesus, Nádia e Rômulo Correia. |
>Um amigo do Danusio, Hélio, Aristênio, Danúsio,Bebeto, Compdare Pedro, Arilo e Alexandre(menino) Jesus Luna, genros e noras. > Chico Parente,Alira, Seu Jesus, Nádia e Rômulo. |
Sítio Buriti Rômulo Junior, Chico Parente, Aride e Aécio. |
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